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Às vezes tudo o que a gente precisa é abandonar a causa

Sabe aquele dia que parece que a vida se tornou um emaranhado de fios de alta tensão?

Por onde quer que você tente desfazer os nós, enfiar as mãos, encontrar soluções, os outros lados se embolam mais. É que nem bijuteria antiga enferrujada, aquelas correntinhas guardadas juntas num porta-joias antigo e você pode ficar horas na frente da TV, esticando as linhas nos joelhos, e a coisa não desenrola: desfaz um nó aqui e cria outro acolá.

Sabe quando parece que a vida se tornou aquele bendito cubo mágico, que você quebra a cabeça resolvendo um dos lados, alinhando a mesma cor, e quando vai trabalhar na outra face, bagunça tudo o que já tinha conseguido?

Você já teve essa sensação de que algumas situações quanto mais mexe mais fede?

De que aquela repetição de atos e conversas além de não estar levando a lugar nenhum, muito menos dissolvendo os problemas, está causando dores de estômago, esgotamento emocional, enjoo em todas as partes do corpo, pois é como ouvir a estridência de uma mesma música 521 vezes, ou engolir pelos ouvidos aquelas mesmas falas. É como estar viciado em jogar na cara verdades que vêm de dores, é como querer resolver os dramas trazendo ele à tona a cada 5 minutos. É como querer fechar as feridas cutucando-as sem parar. É como querer lavar a alma, resolver a vida, limpar a casa, mas jogando as merdas todas no ventilador.

E depois de tantos nós desfeitos e refeitos, depois dos bolos todos no estômago, depois da exaustão dos dias, você pensa: e se eu simplesmente desistir dessa luta insana? E se eu seguir o conselho de minha avó:’o que não tem remédio, remediado está!’

E se você perceber que pode simplesmente abandonar uma discussão no meio, pode jogar aqueles colares enroscados no lixo, pode dar um chute metafórico em tudo, porque tudo isso está sim ‘macumbando’ seu coração, amargando sua alma e atrasando sua vida?

Há sempre a opção eject, pedir pra sair, pular do trem em movimento, desligar telefone na cara, sair andando sem mais nem menos. Fechar a boca e não engolir mais nenhum sapo. Há sempre a opção de não participar da fervura do momento, de não ter as respostas na ponta da língua, de não querer falar mais para não deixar as emoções mentirem pela sua própria boca.

Porque às vezes a gente é caldeirão em ebulição e está precisando apenas de um tempo quieto, de decantação para as coisas começarem a fazer mais sentido.

Porque a vida parece não parar, mas a gente pode sim escolher a paz sem razão, abandonar o sem solução, aceitar não ter decisões, viver um dia de cada vez, sem medo do que vier, ou não vier, porque o que importa é o agora.

Importa é conseguir respirar, conseguir se desenterrar e se resgatar no meio de tudo isso.

Importa é deixar a vida agir em nós com seu tempo e razão e sorrir tranquilos sabendo que tudo o que vem de um não atropelo e sim de uma fluidez de dentro é o que realmente faz sentido.

Às vezes tudo o que a gente precisa é abandonar a causa.

Clara Baccarin

Clara Baccarin escreve poemas, prosas, letras de música, pensamentos e listas de supermercado. Apaixonada por arte, viagens e natureza, já morou em 3 países, hoje mora num pedaço de mato. Já foi professora, baby-sitter, garçonete, secretária, empresária... Hoje não desgruda mais das letras que são sua sina desde quando se conhece por gente. Formada em Letras, com mestrado em Estudos Literários, tem três livros publicados: o romance ‘Castelos Tropicais’, a coletânea de poemas ‘Instruções para Lavar a Alma’, e o livro de crônicas ‘Vibração e Descompasso’. Além disso, 13 de seus poemas foram musicados e estão no CD – ‘Lavar a Alma’.

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