Sabe aquela pessoa que está sempre com a torneirinha aberta, despejando tudo o que lhe vem à cabeça, sem sequer perguntar se quem lhe ouve, o faz por vontade ou obrigação?
E sabe aquela outra pessoa, que, por generosidade ou inabilidade, passa horas de sua vida ouvindo casos e histórias que não são seus e nem sequer faz parte, mas não consegue se desvencilhar?
A primeira, sabe que está obtendo atenção por cortesia. E não lhe importa isso. Ela quer falar.
A segunda, ouve igualmente por cortesia. Pode até se incomodar, mas aguenta firme. Ela entende que a primeira quer falar.
São conversas mediadas pela educação, pela delicadeza de não frustrar quem crê que precisa muito se comunicar, se esvaziar, desabafar.
Mas, quanto vale uma atenção por cortesia? Que nível de envolvimento é possível?
Tão frustrante quanto não ter quem nos ouça confissões e relatos, é também quem nos ouve com distância, distraído, só por cortesia.
Aquela conversa entrecortada, sem continuidade, onde chegamos a inventar detalhes mais emocionantes do que os reais, somente para prender nosso ouvinte escolhido.
Quanto vale uma conversa vazia? Quanto vale alguém te olhando fixamente, sem em nada prestar atenção, apenas aguardando a sua vez de falar?
A gente costuma dizer que é conversa de maluco. Um divagando sobre a origem da vida e o outro, montado em sua bicicleta imaginária, percorrendo campos bem longe dali.
E, ao final, aquele tempo passado juntos, mais os afastou do que qualquer outra coisa.
Atenção é coisa séria e uma prova delicada de amor. Se formos capazes de atender integralmente às necessidades de alguém que tem algo a nos dizer, ainda que o assunto não nos interesse; se soubermos nos colocar no lugar do outro diante da urgência de um desabafo; Então, a mera cortesia dará lugar à empatia, e, sem julgamentos nem cansaço, estaremos aptos a dar a atenção que tanto gostamos de receber e não hesitamos em cobrar dos outros.
A cortesia pode ser guardada para outras ocasiões.
Imagem de capa: Diego Schtutman/shutterstock
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