Por Patrícia Sebastiany Pinheiro
A época das festas marca o findar de mais um ano, embora sempre fique, ao menos para mim, a estranha sensação de que o último natal aconteceu há apenas alguns dias.
Em vez de me proporcionar apenas alegria e entusiasmo, devo confessar que as luzes e papais noéis espalhados pela cidade parecem mexer com os meus sentimentos de uma forma um pouco estranha.
Não sei ao certo o porquê do desconforto e da melancolia que essa época do ano me traz. Seria pela comercialização de algo que, supostamente, deveria ser motivo de reflexão? Não seria hipócrita a ponto de dizer que sim, pois presentear e ser presenteada ainda me alegra da mesma maneira que quando eu tinha 7 anos de idade.
Acho que o problema está no conjunto de pequenas imposições que foram, ao longo do tempo, socialmente construídas e que fazem, ainda que disfarçadamente, parte destas datas.
É a ceia de natal em que o chester, as frutas e os fios de ovos jamais podem faltar, e a festa de ano novo com taças cheias de champanhe que tilintam ao som de fogos de artifício.
Não que tudo isso não seja importante. Acredito que quaisquer motivos que sirvam para aproximar familiares, renovar e estreitar a intimidade das relações e trazer o mínimo de alegria e esperança sejam totalmente válidos e justificáveis por si só.
Aqueles que podem e sentem prazer em honrar tais tradições, têm mais é que o fazer. Devem mesmo investir e procurar por tudo aquilo que lhes traga à tona sentimentos bons.
A questão é que, sinto que somos ensinados a crer que tudo que foge a estes padrões não é mágico, não é completo e muito menos feliz.
Me pergunto se as guirlandas impecavelmente penduradas nas portas de algumas pessoas não estão lá unicamente pelo fato de que os seus vizinhos também as têm.
E, nessa obrigação de sermos felizes, me preocupo com aqueles que acabam, não de forma genuína, mas por pura influência externa, automaticamente priorizando os comes e bebes e a quantidade de pessoas que estarão ao seu redor e esquecendo de relaxar, de curtir aquilo que realmente é importante para eles, de prolongar o abraço.
Talvez, se não despejássemos nessas datas uma importância maior do que a que depositamos no restante de nossos dias, a saudade dos que já partiram e a tristeza da menina que não pôde ganhar um presente porque os pais não tinham condições de comprar seriam menores.
Se, ao contrário, pegássemos essa necessidade de abundância, de estar perto, de confraternizar e dizer palavras bonitas e buscássemos aplicá-la também ao nosso cotidiano, as pobres das datas festivas não carregariam tamanha responsabilidade, o estômago não seria o único a ficar cheio e os fogos brilhariam no olhar das pessoas.
Colunista CONTIoutra
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