Bordadeiras do RN não se calam diante de críticas ao uniforme do Brasil: ‘Orgulho do nosso trabalho’

As bordadeiras de Timbaúba dos Batistas, pequena cidade no interior do Rio Grande do Norte, que ficaram à cargo das artes que estampam os uniformes do Brasil na abertura das Olimpíadas nesta sexta-feira (26), defendem os trajes que serão usados pela delegação e se dizem chateadas com as críticas que a peça tem recebido.

Jailma Araújo, que é coordenadora de Desenvolvimento Econômico e Artesanato do Município e presidente da Cooperativa das Mãos Artesanais de Timbaúba dos Batistas, exaltou a arte feita pelas bordadeiras. “Temos muito orgulho nosso trabalho”, resumiu.

Paulo Wanderley, presidente do COB, também rebateu as críticas que vem dominando as redes sociais nas últimas semanas. Segundo ele, “Não é Paris Fashion Week”.

De acordo com a bordadeira Alcilene Medeiros, de 44 anos, que participou do bordado das artes nas jaquetas da delegação, alguns comentários feitos nas redes sociais são pesados e “vão além da conta”. Ela diz que, pessoalmente, teria feito o modelo com algumas mudanças, mas acredita que também haja preconceito nas críticas diante do uniforme ter sido produzido no Nordeste.

“Não é só pela modelagem, acho que existe ali um pouquinho de preconceito por saberem que a roupa foi feita aqui no Nordeste. Pode até ser que não seja isso, mas a minha intuição diz que também é isso. Eu creio que se a roupa tivesse sido feita em outro lugar, por um estilista famoso e com essa mesma modelagem, a repercussão poderia ser diferente”, disse.

Alcilene conta ainda que as críticas têm afetado as bordadeiras e também as pessoas que admiram o trabalho. Apesar disso, disse que tem visto comentários que também valorizam os bordados.

“Todos ficam um pouquinho chateados em relação aos comentários, mas de qualquer forma a gente sabe que não é com o bordado esses comentários horrorosos”, disse.

“De toda forma a gente fica um pouquinho triste, porque isso prejudica também o nosso trabalho, nosso artesanato, nosso amor que foi colocado ali naquelas peças”.

A opinião é compartilhada pela bordadeira Valdineide Dantas, de 34 anos. “Me deixa triste de uma certa maneira, porque o trabalho desenvolvido pelo bordado foi feito com muito amor. Muita dedicação”, falou.

“Não falo só por mim, mas pelas outras bordadeiras que se empenharam vários meses bordando araras, tucanos e onças pra esse projeto”.

Alcilene acredita que, apesar das críticas, a exposição do trabalho delas na abertura das Olimpíadas vai representar uma valorização.

“Eu tenho certeza que depois dessa abertura, depois que acabar essas Olimpíadas, que a gente não vai dar mais conta da repercussão, do tanto de encomendas que vão surgir”, disse. “Isso é muito bom, muito gratificante. Estamos todas gratas por termos podido estar lá participando”.

Cada uma das peças foi bordadas pelas mãos das trabalhadoras da região Seridó do RN, polo desse tipo de atividade no estado. Os atletas irão usar as roupas em barcos que passarão pelo Rio Sena.

“Fiquei muito feliz em pode participar de um trabalho tão importante e lindo, realizado por várias bordadeiras aqui de Timbaúba. Todas estamos muito agradecidas em pode levar nossa arte para o mundo”, comemorou a bordadeira Valdineide Dantas, de 34 anos, que participou da produção.

De acordo com a Associação das Bordadeiras de Timbaúba dos Dantas, fundada em 1984, o trabalho foi feito por 80 trabalhadoras da cidade – que usaram lápis, agulha, goma e máquinas de costura. O trabalho inicialmente havia sido iniciado por 18 profissionais, mas aumentou devido à demanda.

O teste do uniforme foi feito em março deste ano, quando a atleta Bárbara Domingos, da ginástica rítmica, visitou a cidade e foi a primeira experimentar a roupa.

Foram, ao todo, mais de 2.484 peças confeccionadas e entregues em cerca de cinco meses – sendo o último lote em abril.







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