Sigmund Freud identificou que todos os instintos despontam em duas categorias principais: os instintos de vida e os instintos de morte, pois o humano se constitui em seu universo interior, de sombra e luz. Falar sobre isso soa estranho em nossa era tecnológica, da razão e da ampla circulação de conhecimento.
Porém, a narrativa judaico-cristã das figuras míticas de anjos e demônios podem nos ajudar a explicar as coisas sagradas e profanas, que se relacionam na contemporaneidade, associadas à concepção grega de Eros e Thanatos, que podem levar a civilização à morte e ao amor.
Os hebreus durante o cativeiro da Babilônia herdaram parte da mitologia suméria, como o termo “satan”, que na tradução literal significa “adversário”. A partir daí a figura de satanás permeou o cotidiano dos homens, mas a notoriedade do demônio se deu na religião cristã, como aquele que divide e separa as pessoas de Deus.
Thanatos é a personificação da morte. Filho da Noite, que o concebera sem o auxílio de nenhum outro deus, irmão do Sono, inimigo implacável do gênero humano, odioso mesmo aos Imortais, ele fixou a sua morada no Tártaro diante da porta dos Infernos.
Na iconografia, os anjos têm asas de aves, auréolas douradas e são belos, que emanam um forte brilho. Por vezes são representados como uma criança, por sua inocência e virtude. O nome “anjo” é dado a todas as classes de seres celestiais, que pode descrever um ser bondoso, com muitas virtudes, que guarda ou protege uma pessoa.
Eros é retratado como um menino alado, de cabelos louros, com aparência de inocente e travesso que jamais cresceu. Porta arcos e flechas de amor e paixão, prontas a atingir, de forma certeira o coração e o fígado dos humanos.
Carl Jung descobriu que a psique humana integra imagens primordiais, que dão sentido às histórias do passado e das próximas gerações, formando o conhecimento e o imaginário do inconsciente coletivo, que são experiências universais: simbolizadas por arquétipos de anjos e demônios, que impulsionam a vida dos seres humanos.
A teoria psicanalítica de Eros e Thanatos encontrou repercussão autodestrutiva no ser humano. Para Albert Einstein, Freud ligou Eros ao amor e Thanatos a odiar, ao mesmo tempo em que advertiu: “(…) devemos ser capazes de passar sobre as palavras do bem e do mal. Cada um desses instintos é tão indispensável quanto o seu oposto, e todos os fenômenos da vida derivam de sua atividade”.
Hoje, as ideias e ações de certas personalidades políticas, religiosas e empresariais têm poderosas relações com as forças tanáticas, que geram sofrimento humano e padecimento da natureza. Ainda existem os reles mortais, que no cotidiano atiçam os seus demônios contra os outros, expondo os sentimentos de ódio e destruição nas redes sociais, que nos permitem medir as quantas andam as emoções de indivíduos, comunidades e países.
No entanto, surgem os anjos que são aquelas pessoas que nos cercam com sua amizade e sabedoria, que através de suas palavras de – consolo e esperança – nos ajudam a enfrentar as dificuldades. Aliás, elas nos orientam para não cairmos nos embustes de gente ruim e de líderes insanos.
Enfim, para lidar com os instintos luciféricos do nosso mundo interior e exterior é preciso estabelecer o equilíbrio e a serenidade, sobrepondo os instintos do Eros sobre a do Thanatos. O que significa promover o encontro psicoespiritual consigo mesmo, a fim de debelar as forças diabólicas e avivar as forças angelicais. É como disse Mia Couto: “Cada um descobre seu anjo tendo relação com o demônio.”
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Imagem de capa meramente ilustrativa- Anjo e demônio em Good Omens- Foto Divulgação.
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