Marcel Camargo

Cada vez que eu insisto em você, eu desisto um pouco de mim

Um dos maiores perigos que nossos sentimentos correm, quando nos relacionamos com alguém, vem a ser a possibilidade de os fragilizarmos, por conta de nossas próprias fraquezas e inseguranças. Não é difícil lidarmos com o que sentimos quando amamos alguém, ainda mais quando o outro não se entrega, não se mostra inteiro, nem pronto para estar ali junto.

Quando somos intensos e verdadeiros, quando apostamos todas as fichas e nos entregamos de corpo e alma a alguém, esperamos nada menos do que retorno na mesma medida. Embora cada pessoa aja conforme o que tiver para dar, a gente sempre acaba desejando que ajam como nós, porque parece que não conseguimos nos conscientizar de que nem todo mundo tem o mesmo coração que o nosso.

Criamos expectativas em relação a tudo e a todos, o que não é de todo ruim, uma vez que são as esperanças que nos motivam a não desistir daquilo que faz o nosso íntimo vibrar. Porém, quando esperamos demais, além da conta, achando que o outro mudará, que seremos valorizados e receberemos gratidão por tudo o que somos e fazemos, mesmo quando a realidade à nossa frente nos grite que ali nada florescerá, a gente acaba desistindo aos poucos da felicidade.

Depositar todos os nossos anseios e sonhos no outro, fazendo com que nossa felicidade se encontre fora de nós, tornando o que somos dependente do que o outro é, insistindo no que já acabou – ou nem começou direito -, acabará por nos distanciar de nossas próprias vidas. Quanto mais se insiste em pessoas e em coisas vazias de retorno, menos a gente se ama, menos a gente rega o amor-próprio, mais e mais desistimos de nós mesmos.

É muito penoso lidar com a rejeição, com a ausência, com o vazio de quem permanece ao nosso lado por comodismo, por conveniência, desviando o olhar a todo momento. E a gente acaba, muitas vezes, tentando lutar por algo que já nem existe mais, inutilmente, esgotando forças que deveriam ser canalizadas ao fortalecimento do nosso amor próprio. Portanto, há que se ter sabedoria suficiente para largar mão de tudo o que não mais procura pelas nossas mãos. Afinal, desistir, nesses casos, equivalerá à nossa própria salvação.

Imagem de capa: Nasgul/shutterstock

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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