Marcel Camargo

Cada vez que o coração se quebra, a gente morre um pouco

Como dói, como machuca passar por situações de tristeza, desânimo, quando perdemos alguém, quando recebemos o que jamais esperávamos de quem menos deveria, quando o amor acaba, fere, diminui. O ar sufoca, a gente não tem para onde ir, nada parece importar e, aqui dentro, nada pulsa, nada nos dá luz.

Pode vir quem quiser tentar nos consolar, que nenhuma palavra conseguirá acalmar o nosso coração, porque, ali, naquele momento de escuridão, não enxergamos saída alguma, não concebemos futuro possível a partir daquele tombo. E são tantas lágrimas, que a gente não consegue ver quem está à frente, que dirá alguma coisa que se encontra lá longe, num futuro ao qual fugimos, sem forças.

Desespero, somente isso e nada mais. Desespero que corre nas veias, retirando-nos quaisquer resquícios de fé, de esperança, de meta, de crença num amanhã menos dolorido. Na verdade, a gente não está preparado para enfrentar certas tempestades, simplesmente porque existem vendavais que sugam por completo o que nos é mais caro, o que nos traz alegria, quem sempre foi nosso porto-seguro.

Seja uma decepção amorosa, a morte de um animal de estimação ou de alguém que amamos, seja o desemprego, uma traição, até mesmo perdas materiais, a verdade é que a dor vem e se instala, de pronto, reinando soberana, minguando os mais recônditos espaços em que haja sonhos dentro de nós. E cada segundo então se arrasta, enquanto lamentamos e nos arrependemos, como se fôssemos os únicos culpados por tudo aquilo.

Entretanto, muito do que nos acontece não é culpa nossa. Não vivemos sozinhos, mas rodeados de pessoas, muitas delas capazes de nos ferir sem razão lógica. Da mesma forma, imprevistos e acidentes acontecem, o inesperado sempre está à espreita e não adianta tentarmos encontrar culpados ou razões; certas dores vêm para aniquilar mesmo, sem mais nem por quê. E, nesses momentos, como irrita aquela história de que sofrer fortalece, puxa vida. Em meio à dor, quem quer ouvir isso? Quem sequer pensa nisso?

Uma coisa é certa: as pessoas sobrevivem às mais improváveis escuridões, sim, as pessoas continuam – pessoas são incríveis! Continuam, reerguem-se, caminham, aos poucos, trôpegas, alquebradas, mas indo. Entretanto, ali já não seremos a mesma pessoa de outrora, ali não aceitaremos mais qualquer um, qualquer coisa. Ali seremos um eu que sobreviveu ao fundo do poço e voltou.

Mais – ou menos – felizes, mais – ou menos – fortes, inteiros ou despedaçados, a gente vai ficando mais seletivo em relação às coisas e às pessoas, porque então saberemos que, quanto mais amarmos, mais estaremos sujeitos à dor das perdas. Mesmo assim, continuaremos amando, porque é assim que a gente renasce, com fé e esperança.

Imagem de capa: Mark Nazh/shutterstock

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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