Caiu na rede é peixe, se não é, vira!
Ta sendo assim a vida, ou a minha peneirança de pessoas, sentimentos e vivências. Se cair na rede é peixe! Pelo menos é assim que gosto de pensar e é assim que tenho colocado minhas intenções.
O que cai na minha rede é peixe bom, é fruto, é sorriso, é leveza, é alegria. Claro que vez ou outra ainda entra um pedaço de galho, uma garrafa vazia, um peixe de borracha… Mas dura pouco, fica pouco, não segue por muito tempo no meu barco, na minha vida, nos meus pensamentos…
Deve ser porque desenvolvi olhos de pescadora, misturo intuição com observação cuidadosa, autoconhecimento com sabedoria de vida. Percebo mais rapidamente o que só chega para encher linguiça, ocupar espaço, tirar a paz, percebo rapidamente a ilusão de ótica e o que não cai bem no estômago. Percebo rapidamente (ta certo, às vezes leva algumas semanas) o que é pouso para o coração e o que é maremoto de alma.
Talvez por ter cansado de colocar meu barquinho em oceanos desconhecidos e sair para experimentar as marés e voltar às vezes cheia e às vezes devastada. Talvez por ter cansado de sair vivendo antes de me conhecer. Por ter cansado de comer tanta alga pensando que fosse salmão. Eu finalmente parei, respirei, refiz minha embarcação e resolvi compreender pela observação dos ventos (de dentro e de fora) em que mares eu deveria navegar.
Hoje eu vou devagar a vagar por aí, navego em águas mais claras e tranquilas, nado no grupo dos cardumes que têm mais a ver comigo, fujo dos excitantes tubarões. Não caio nas iscas das palavras bonitas e das histórias eloquentes. Não mergulho de cabeça se não consigo ver meus pés debaixo d’água, não sigo muito longe nos mares muito agitados e turvos.
É porque eu gosto mesmo é de me tratar bem, eu gosto do que é bom, eu gosto de entrar por inteiro e sair mais inteira ainda, bem nutrida de lembranças, abraçada por paisagens agradáveis.
Então eu tenho aprendido a peneirar meus peixes, a cuidar quando brilham, a jogar longe quando fedem.
Eu lavo a alma e sigo em frente.
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