Se um dia, lá pelas tantas, num momento banal e insuspeitado, tu notares lá no fundo que alguém te quer ver pelas costas, não te avexes. Aceita e dá a esse alguém o que é de sua vontade: segue em frente. Toma distância. Se não é para teu bem, que fique lá atrás.
É que o caminho tem tanta gente boa à espera de olhar em teus olhos, ouvir tuas coisas, contar-te as dela, tanta alma carecida de tua ajuda, tanta mão estendida para quando tu caíres, tanto alguém com quem vale a pena estar, que perder um só instante em companhia equivocada é jogar a vida fora.
Quem aceita deitar em mau lençol acorda de mau jeito. Priva de sua presença aqueles que a merecem, fecha a porta a quem deve entrar. Interrompe o fluxo. Tranca-se, abrevia-se e se encerra com quem há muito já devia ter sumido.
Eu, não. Eu escolhi andar ao lado de quem quer me ver de frente. Preferi caminhar na companhia de quem me quer livre para ser quem eu sou e preza sua liberdade de ser quem é. O resto não me interessa. Fica lá atrás. Se não quero bem, quero longe.
Tu sabes. Aqui e ali há sempre um adulto que se recusa a crescer e permanece imaturo feito um bebê birrento, oferecendo correntes a quem se aproxima. E ai de quem confundi-las com braços abertos. Viciado em sua própria ira egoísta e incapaz de resolvê-la sozinho, faz de pessoas objetos e as amarra para odiá-las de perto, paralisá-las, aprisioná-las de costas, puxando-as para trás em seu jeito sujo de não deixá-las seguir em frente. Mantendo-as no atraso, cortando suas asas, roubando-lhes a vida.
Foge. Foge que sempre é tempo. Luta contra esse mal, estoura suas amarras, grita, esperneia, pede ajuda. A vida é movimento e viver vale a pena. Caminha ao lado de quem te quer bem ou caminha só, para frente, sempre.
Imagem de capa: Jacob Lund/ shutterstock