Conhecer cidades do Peru, ou mesmo, Machu Picchu, nunca fez parte do meu repertório de sonhos. A viagem, aceita de supetão, foi um mero acaso ligado ao convite de uma amiga muito querida. Mal sabia eu que o Peru já me esperava.
Caminhar por seu solo sagrado, conhecer um pouco mais de sua história, sentir o amor que seu povo nutre pelo passado, saber de suas lutas… tudo isso me acessou naquele ponto mais íntimo, naquele local que não existe no concreto, mas que faz girar o universo.
A sensação de real pertencimento é algo que encontramos em poucos lugares de nossa vida. Ele costuma acontecer quando estamos no conforto e na segurança de nossos lares, no seio de nossa família ou mesmo entre amigos queridos. Mas, às vezes, ela também acontece em momentos inusitados. Ou, como disse Guimarães Rosa ao falar da felicidade, nos momentos de descuido.
No cerne dessa descoberta o pertencimento é aquele que dá ritmo a nossa jornada, é aquele que sincroniza nosso respirar, é aquele que coloca em uma só frequência as dimensões que pensávamos ser inacessíveis. Deve ser daí, desse encontro inesperado, que surgem os andarilhos ou até os modernos mochileiros que vislumbram o movimento e que, mesmo definindo uma meta de chegada, encontram sua renovação na hipnótica frequência dos passos, na sublimatória harmonia com o trajeto, no chão batido, na água e nas pedras que trazem a energia de vidas que, provavelmente, nunca nem mesmo foram registradas.
É no emblemático encontro consigo mesmo, naquele momento em que as variáveis constantes são deixadas para trás, que o ritmo se instala, que o olhar segue o horizonte: é lá que as guardas são baixadas. É nesse momento, nessa fagulha do sentir , que nos abrimos e aí, finalmente, percebemos que também pertencemos, que somos parte do todo, que somos todos pétalas de uma mesma flor.
Agradeço ao universo, por cada passo dado, por cada quilômetro percorrido e por cada degrau que meu corpo teve forças para subir. Um após o outro numa sequência infinita que, a cada instante, me levava de encontro ao sol.
Agradeço à minha amiga Maria Carolina Gouvea, pelo feliz convite, à minha sobrinha Ana Carolina, que esteve comigo em cada respiração, mesmo que numa localização onde o ar, mais rarefeito, nos fazia parar frente a insignificância de nossas limitações físicas para nos mostrar nosso ínfimo lugar naquele espaço.
Agradeço aos meus colegas de percurso do grupo. São eles as pessoas que, assim como eu, permitiram-se trilhar o inesperado com o peito aberto para o novo e tudo que ele pode trazer.
Agradeço, finalmente, aos profissionais que possibilitaram essa jornada: A Fabiana Pagan, da Adventure Peru Brasil que nos contagiou com todo comprometimento, amor pelo Peru e honestidade em seu trabalho; ao guia Roli Mallqui, que esbanja simpatia e conhecimentos, ao Juju Romero e à sua esposa Sheila e, principalmente, ao gerente da Machupicchu Best Trips , Jean Carlos Romero, que presenteou a mim e ao resto do grupo com sua presença e cuidados constantes, assim como com histórias de família que fizeram toda a diferença em minha percepção do local: definitivamente um belo ser humano que cruzou nosso caminho.
Do mais, não sei se um dia terei a oportunidade de voltar ao Peru (apenas espero muito que sim). Mas o Peru, definitivamente, jamais sairá de mim.
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