“A poesia só é poesia
por trazer deslumbramento ou perplexidade.
Algumas vezes , traz os dois.
Os textos do Joilson são assim:
um susto que deslumbra.”
___Nara Rúbia Ribeiro
Cansado de guerras alheias
Por Joilson Kariri
Alto lá!
me dizem esses senhores,
que com olhares inquisidores me perguntam:
de onde vem, caminhante, e o que faz da vida?
ora, eles sabem que sou um velho soldado,
veterano de muitas guerras perdidas, suas guerras.
já não tenho paz, nem é minha essa terra,
pois sou apenas um homem que morreu antes de ser abatido.
Em cada combate, em cada batalha, eu me vi vencido.
E quanto mais eu cavava trincheiras na minha alma,
tentando me esconder dos órfãos desvalidos,
das viúvas abandonadas e dos velhos sonolentos,
mais me aprofundava nos meus tormentos, nas minhas tristezas.
Minhas mãos sujas arrancavam o pão de suas mesas,
abatendo seus pais, seus filhos, seus maridos.
Não tem calor nesse fogo que me agasalhe o corpo,
é tanto frio dentro de mim, tanto medo que me consome
e num chão frio que há dentro do meu peito,
enterrei o pássaro da paz, dei-lhe lápide, escrevi os nomes
dos que tombaram defendendo seus caprichos, senhores.
Não, não me deem suas honrarias, não me mandem flores,
não me glorifique por essas guerras que não são minhas.
Se sou heroi, sou derrotado, sou um pobre mito feito com sangue de outros homens.
Nota da CONTI outra: a poesia acima e outros trabalhos do escritor Joilson Kariri são reprozuzidos nessa página com autorização do autor.
Nara Rúbia Ribeiro: colunista CONTI outra
Escritora, advogada e professora universitária.
Administradora da página oficial do escritor moçambicano Mia Couto.
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