Marcel Camargo

Cara-metade que nada, ela queria um cara por inteiro

Muitos de nós esperamos encontrar alguém que nos complete, que nos traga o que nos falta, que nos complemente naquilo de que precisarmos, que seja o oposto, o que nos atrairá. É como se precisássemos de alguém que fosse a metade de nossa laranja, como se não pudéssemos ter o que nos basta dentro de nós.

Por conta disso, acabamos sempre nos sentindo incompletos, imprecisos, necessitados de uma outra pessoa que reequilibre o nosso peso na balança sentimental de nossas vidas. Esse também é um dos motivos dessa cobrança social pelo nosso namoro, casamento, pela nossa suposta necessidade de estar com alguém.

E assim é que muitos de nós simplesmente nos sentimos forçados a buscar por um relacionamento, por alguém para ser apresentado à família, aos amigos, à sociedade. Passamos a tentar satisfazer os apelos dos outros, as cobranças de quem nem sabe o que queremos da vida, enquanto engolimos, ainda que com muito custo, como nossas, as verdades que não caberiam nos espaços que abarcam os nossos sonhos reais.

Porque é possível, sim, ser feliz sozinho. É possível esperar pela pessoa certa, por alguém que não traga o que falta, mas que some e transborde o que já carregamos. É possível não se contentar com amores fracos, com amor aos pedaços, com qualquer um. É possível, sim, exigir nada menos do que aquilo que venha ao encontro de nossos desejos mais íntimos, sem maquiagem, sem a roupagem do recato e do romance cor-de-rosa.

Existe quem não queira um amor sereno, tranquilo demais, morno. Existe quem não se contenta com uma companhia sonsa, equilibradamente tediosa. Muitas pessoas desejam amores intempestivos, roupas rasgadas, excessos nos encontros, desencontros, ânsia irrefreável, busca incontrolável, arroubo arrebatador de almas. Não desejam o que falta, porque, na verdade, nada lhes falta. Querem uma conta que soma e multiplique.

Obviamente, existem muitos casais que parecem se completar, no sentido de que cada um dos parceiros é diferente do outro em muitos aspectos. Mas, se olharmos de perto, relacionamentos que duram são aqueles em que há, sobretudo, respeito entre as partes e admiração pelo outro ser exatamente como é. Porque um se enxerga no outro, refletem-se no que têm de melhor e pior. Não se trata, pois, de complemento, mas de união de todos completos que se tornam cada vez mais, que se amam cada vez mais. Porque cada um deles permaneceu inteiro, permaneceu junto e ali ficou, de corpo e alma.

Imagem de capa: Chema Concellón

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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