Se você está lendo isso agora, já deve saber que não, eu não morri sem você. Foi quase. Cheguei o mais perto que pude de um caminho sem volta, mas voltei. Cheguei quase ao ponto de não poder continuar, mas continuei. Porque antes de você, outros me ensinaram que na manhã seguinte posso estar caída, mas na semana adiante, estarei melhor e na semana seguinte, estarei de pé. Sou dessas. Do tipo que se levanta.

E terei meus pés fincados na terra, como uma bandeira em um país que se conquista, uma guerra que se vence, uma dor que dissipa. Algo me diz que fará bem pro seu ego saber que eu chorei. Às vezes, no meio do dia, no hábito do nada, eu chorava pensando se a culpa era minha. E eu a levei, pequena, delicada, como um bebê nos braços, por meses. Aquela culpa tardia que me acompanhava nada mais era que a falta velada de você.

Carreguei-a até entender que na guerra e no amor todos conhecem as regras – sobreviver. Por isso escrevo, não pra destrinchar minha dor em mil partes, não diante de você. Escrevo pra contar que você não tem culpa nenhuma afinal. No fundo, eu sempre soube quem você era. Talvez em algum momento eu também tenha amado isso, esse seu jeito de ver a vida, mesmo que depois ele tenha se virado contra mim. Não há culpados. Alforrie-se também.

Dia desses, pensei ter visto você saindo de uma loja e meio que corri. Sabe-se lá o motivo. Na verdade, corri feito uma doida. Agarrada com a bolsa frente ao peito, como que tentando guardar meu coração dentro nela. Não sei se era você, se não era. Mas hoje tudo isso me faz rir, muito. Você sempre me destemperou um pouco. Mas acostumar meus olhos a não ver-te criou isso, uma falta de costume de te ver. Também estou escrevendo pra dizer que não fugirei mais. Já posso olhar nos seus olhos sem doer. Serei apenas grata enquanto te olho.

Grata inclusive pela dor que me causou. Porque me recompor, me reconstruir noite a após noite, mostrou como amar é inexplicavelmente bom. Porque no fundo não era sua falta que doía, mas a falta dele, do amor. Amor que nem você, nem eu mesma pude me dar. Mas, como você pode ver, isso também mudou. Não, ficar sem você não me matou. Só me deu uma nova vida que também aprendi a amar. Não fiquei amarga, não perdi a fé, apenas uns quilos, talvez. Aprendi também que os erros são aceitáveis quando o que a gente vive é ensaio. E todo ensaio é sinal de que algo grandioso e real ainda está por vir. Fique bem. Eu estou.

Colabore, mas colabore mesmo hein, com a publicação do livro de crônicas do Diego Engenho Novo

Saiba mais em: www.kickante.com.br/amarmododeusar

 

Diego Engenho Novo

Escritor, publicitário e filho da dona Betânia. Criador do blog Palavra Crônica, vive em São Paulo de onde escreve sobre relacionamentos e cotidiano.

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