O instrutor de surfe Matheus Ribeiro viveu uma situação revoltante no último sábado (12). Ele, que é negro, foi acusado por um casal de pessoas brancas de ter roubado uma bicicleta. Mesmo depois de explicar que aquela bike elétrica era dele, o casal se recusou a acreditar, até descobrir o engano por conta própria. Matheus registrou o desfecho da cena como denúncia do racismo que sofreu, e o vídeo viralizou na web.
Matheus, que é morador da Maré, aguardava sua namorada em frente ao Shopping Leblon, no Rio de Janeiro, quando foi surpreendido pelo casal. Segundo o relato do instrutor de surfe, o homem teria lhe perguntado: “Você pegou essa bicicleta ali agora, não foi?”. A moça, por sua vez, teria afirmado com certeza: “É sim! Essa bicicleta é minha!”.
O instrutor de surfe relatou ainda que, frente às acusações, mostrou a chave do cadeado da bicicleta, abriu fotos antigas dela em seu celular e provou que era dono da bike. Mas o casal estava irredutível e continuou insistindo na versão do roubo. Os dois só desistiram quando o homem branco tentou abrir o cadeado e viu que realmente não funcionava. “Eu só consegui provar que a bicicleta é minha quando, sem minha autorização, o lindo rapaz pega o cadeado da minha bicicleta e tenta abrir. Frustrado com sua tentativa, ele diz que não me acusou, afinal, o rapaz só estava perguntando…”, escreveu Ribeiro.
Casalzinho de racistas do Leblon pararam um jovem negro, Matheus Ribeiro, cria da Maré, por acharem que a bike que ele estava era deles. Os racistas só pararam após tentarem colocar a chave, sem permissão, na bicicleta e verem que de fato a bike não era deles. Não tem bom dia.
— laerte (@brenolaerte) June 14, 2021
Depois da situação, o morador da Maré desabafou em seu perfil no Instagram. “Moral da história: esses filhos da p*** não aguentam nos ver com nada. No mesmo lugar que eles?! Piorou. Eu não era alguém pedindo esmola ou vendendo jujuba… Um preto numa bike elétrica?! No Leblon???! Ah só podia ser, eu acabei de perder a minha, foi ele…”, disse ele.
“São coisas que encabulam o racista. Eles não conseguem entender como você está ali sem ter roubado dele, não importa o quanto você prove. Isso não foi um desespero de quem foi furtado, isso é o desespero do racista quando vê a gente perto. […] Ela não tem ideia de quem levou sua bicicleta, mas a primeira coisa que vem a sua cabeça é que algum neguinho levou”, disse o rapaz. Confira a publicação na íntegra abaixo:
Matheus reconhece que presença da polícia “poderia ser pior”
Em entrevista ao jornal “O Globo”, Matheus Ribeiro contou que já foi vítima de racismo outras vezes, mas nunca tinha encarado uma situação tão constrangedora. “A gente que é negro convive com esse tipo de situação desde sempre. Mas nunca tinha sido tão constrangedor, apesar de não ser inédito”, contou. Por viver essa triste realidade na pele, ele sempre busca se informar muito: “Eu assisto e leio muito sobre o assunto. Além de estar em pauta, a gente passa por isso, né, cara. Uma pessoa branca pode se interessar, mas eu vivo o assunto, preciso saber sempre como lidar com isso”.
O jovem também comentou a abordagem pelas duas pessoas brancas que o acusaram. “Estamos no Rio, claro que todo mundo tem medo de ser assaltado. Mas ali não havia nenhuma situação diferente, estava todo mundo parado na rua. Por que eles pensariam que fui eu? Essas coisas que a gente fica se perguntando”, afirmou.
O instrutor de surfe já imagina que o caso não vá para frente através de vias legais. Mesmo assim, ele registrou ocorrência na polícia após ser aconselhado a fazer isso. “O que eu espero é que no mínimo as pessoas que fizeram isso tenham consciência do que estão fazendo. Minha intenção na delegacia não é ganhar cesta básica. Eles aparentavam ser jovens formados nos estudos, e com informações que temos, precisamos estar ligados com isso”, mencionou.
Por fim, Matheus reconhece que caso a polícia tivesse flagrado a cena, o desfecho poderia ter sido outro. “Conversei com amigos do trabalho hoje e eu falei que dei sorte de não ter passado polícia. Para a polícia, até explicar que a bicicleta era do preto no Leblon, poderia ser pior”, refletiu ele.
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Redação Conti Outra, com informações de Hugo Gloss.
Fotos: Reprodução/Redes sociais.