Se não há príncipes encantados, sejamos sapos encantadores.
Desista, moça. Conforme-se, amigo. Não existe príncipe encantado. Pelo menos não aqui, do lado de fora dos contos de fada, longe das novelas de TV, para além dos filmes de amor. Eu sei que você já desconfiava, mas não custa repetir, assim, por precaução. Só para o caso de a gente achar que tropeçou, caiu num portal mágico e virou herói de ficção.
Entre nós não há príncipes ou princesas impecáveis. Somos os sapos e as borralheiras de uma história sem fim. Criaturas falhas e imperfeitas. Nada mais que isso. Agora, aqui pra nós, isso não nos impede de fazer uma forcinha e tentar ser sapos e borralheiras melhores, ué!
Não há neste mundo criaturas intocáveis, garantidas, imunes ao erro. Nenhuma decisão está livre de se tornar um equívoco. Toda escolha traz o risco de ferir a nós mesmos e aos outros. É assim que é. Viver é manejar uma faca afiada. Mesmo com todo cuidado, a maior atenção e a mais absoluta consciência, uma hora a faca escorrega da mão da gente e, dependendo do nosso preparo, ela nos machuca ou nos mata.
Somos jogadores tacanhos, aprendendo o jogo no erro. Cada engano é o que nos salva e todo acerto é relativo, perigoso, porque traz a ilusão de que um dia a perfeição nos chegará num cavalo branco. Ela não vai chegar. E quanto mais nos acreditamos princesas e príncipes, mais nos desencantamos.
Assumamos, pois. Jamais seremos da realeza infalível. Sejamos gente melhor, então! Gente que namora o impossível, ama o que tem e faz tudo o que cabe a bons sapos e belas borralheiras.
Sejamos os príncipes e as princesas da vida possível. Sejamos pessoas. Não mais que isso: gente que ama a vida e trabalha duro para viver bem. Façamos com empenho o melhor que pudermos, sejamos bons, justos, livres. Sigamos adiante e sigamos juntos!
Só assim seremos mais que vagas e impossíveis criaturas encantadas. Seremos gente de carne, osso e sonhos, vivendo honestamente uma vida encantadora.
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