Chove. Chove no domingo. Chove muito neste domingo.
Chove porque quero e também porque preciso que chova.
Chove muito: por dentro e por fora de mim.
A gota que cai é a mesma lástima que respingo.
A lágrima que cai é a mesma chuva que lá fora se faz – gotas parecidas, motivos distintos. Chove muito neste domingo.
E assim eu o precisava.
À medida em que me intensifico, intensificam-se as gotas – para fora de mim. Em lágrimas, e rua, caindo, estreitas assim.
A chuva lava minhas impurezas – porque também erro no amor (e admito).
Lava a mim. Lava a meu ser, minhas dores, meus receios e anseios.
A chuva que cai fora de mim é a chuva que eu preciso que caia.
Deixo para com ela tudo o que não fui, tudo que não disse, tudo que não fiz. Toda oportunidade que adormeceu. Tudo que não compreendo: afinal, às vezes não compreendo nem a mim ou às nuvens chuvosas presentes em dias ensolarados. Ela vem e se intensifica, e quão mais forte se torna, mais sereno me comporto.
Vou sentindo este manto, este velcro, este torpor.
Sinto alegria e amenismo, esta hipérbole dentro de um senhor.
E também envelheço!
Acalmo-me quando a chuva se acalma. Vou-me quando ela se vai.
O banho não é de desígnios, mas de alma.
O estalar das gotas no chão ecoa e seu barulho simboliza o término de cada emoção que a gota representa.
Mimetismo e analogia.
Animosidades e desígnios.
O estalar das gotas pontua-me.
Me leva.
Me lava.