Existe uma lenda sobre o amor em Tocantins. E por ser sobre o amor, gera todo tipo de reação. Alguns querem ouvi-la e saber se é verdade mesmo. Outros arrepiam de medo ou de descrença. “Que negócio de amor, vai trabalhar que passa.” É o que costumam aconselhar nas esquinas das cidades, quem já perdeu uma parte do coração na trabalheira de amar alguém.
A lenda é curtinha. Existiram duas pessoas em Tocantins, elas se conheceram. Nos primeiros encontros as roupas eram minimamente escolhidas. Os cabelos penteados de forma estratégica. Mas dormiram sem explicação e acordaram juntas. O sono desmontou todos os enfeites. Uma pode ver a cara de natureza selvagem da outra. Aconteceu, então, o que muita gente quer evitar. A paixão mais rural, com seus cavalos no estômago e galos cantando romantismos nos ouvidos, pegou bem.
Porque a gente monta o espetáculo urbano, acendemos as luzes, encenamos textos maravilhosos e cheios de sabedoria e sedução, somos surpreendidos. É só quando o show acaba, ao descer do palco e subir na mesma caminha de todos os dias que o Singular começa a aparecer.
“É tão singular / O jeito que me observa acordar / E meu cabelo não parece te assustar/ Você, incrivelmente, não se importa.” ( Singular, AnaVitória. )
Até chegar o Singular, nos aventuramos nessas coisas plurais. As dúvidas, as incertezas, os medos. Sempre que alguém me pede conselho sobre se declarar ou não, eu chuto e digo que sim. É a minha forma de gritar; Deixa disso e singularize! Poder dizer o que se sente é essencial. Diga. Fale tudo, transborde. Depois volta, com a sensação de tarefa cumprida, de ter ido com coragem e não se rendido às preguiças do coração.
Hoje mais cedo pensei em ligar/ Dizer que é bom escutar sua voz/ Mas a verdade é que posso jurar/ Nunca te ouvi/ Que coração preguiçoso esse teu/ Fica esperando sem nunca insistir. ( Deixa, Ana. )
Essa confusão toda de sentimentos, existe de canto a canto no Brasil. Saiba que você não é a única alma no mundo se enrolando e desenrolando. Estamos todos no mesmo barco. Na mesma malinha de mão, com receios de transpassar e ser transpassado. Há sempre uma hora da vida em que cerramos os dentes de tanta vontade de se enamorar.
A gente fica mordido, não fica?/ Dente, lábio, teu jeito de olhar / Me lembro do beijo em teu pescoço / Do meu toque grosso, com medo de te transpassar. ( Zero, Liniker.)
E se tá tudo meio estranho demais, ou se tá tudo tranquilo e favorável aos bons destinos, existem de toda forma canções que nos permitem experimentar novas histórias. Cante, quem canta novos amares encontra.
*Abaixo as músicas citadas no texto.
Singular, ANAVITÓRIA.
Deixa, ANA.
Zero, LINIKER
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