Antes de mais nada, é conveniente lembrar que todos nós somos mentirosos; uns mais, outros menos.
O escritor americano Mark Twain uma vez disse:
“A verdade é poderosa e prevalecerá. Não há nada de errado com isso, exceto que ela não é assim.”
Diariamente, as pessoas usam a mentira como um artifício para conseguir o que querem. Elas mentem para passar uma melhor impressão, para tentar provar algo e se fazer acreditar, para exercer poder sobre os outros, e também para proteger alguém (ou a si mesmas) quando a verdade é ardilosa demais. Existem, ainda, outros motivos pelos quais nós mentimos com maior frequência do que queremos assumir.
A mentira surge cedo, nos primeiros meses de vida. Bebês choram falsamente com o intuito de conseguir atenção ou alimento e, até o responsável atendê-los, dificilmente irão parar de chorar. Mentem por motivos estratégicos.
Por mais desagradável que seja, faz parte da nossa natureza mentir, embora não seja um argumento aceitável para muitas pessoas, que continuam mentindo.
Existe hoje uma certa “epidemia de mentiras” que vem ganhando terreno numa sociedade em que as pessoas evitam, cada vez mais, a interação presencial. A mentira é como um lubrificante que alivia o atrito e o conflito nas relações sociais e, muitas vezes, nos impede de sofrer em um mundo de muitas verdades absolutas.
Quem fala com propriedade sobre o tema “mentiras” é Pamela Meyer, autora americana famosa por ter escrito o livro Liespotting: Proven Techniques To Detect Deception, no qual ela mostra algumas técnicas de como detectar mentiras e identificar mentirosos.
Meyer começou a se interessar por mentiras durante uma palestra que ela participou na Harvard Business School, há muitos anos atrás. Durante o evento, ela e mais 350 pessoas assistiram a um professor falando sobre como as pessoas se comportam enquanto estão mentindo. Meyer notou as pessoas que estavam ao seu redor e, incrivelmente, nenhuma delas mexia em seus celulares nem se mostrava distraída. Pelo contrário, todas prestavam absoluta atenção, o que é raro hoje em dia. Quando testemunhou aquele silêncio completo, ela soube que algo transformacional acontecia, e foi então que ela obteve o insight para estudar e escrever um livro sobre a natureza das mentiras.
Em entrevista para o site ACFE, ela afirmou:
“Enquanto eu decidi estudar sobre mentiras, me juntei a uma equipe de pesquisa. Nós examinamos a maioria dos estudos científicos, e descartamos as descobertas que não puderam ser comprovadas. Tornou-se evidente para mim que a mentira e o autoengano têm sido essenciais para a literatura, psicologia, psiquiatria e psicanálise desde tempos imemoriais. Há um vasto depósito de conhecimento sobre a mentira, mas não havia sido compilado de uma forma fácil de entender. Então, eu me encarreguei de fazê-lo e, eventualmente, escrevi o livro Liespotting.”
Para escrever seu livro, Meyer realizou uma série de pesquisas na área de ciência cognitiva, analisou microexpressões faciais e gestos corporais, e assistiu entrevistas jornalísticas e interrogatórios criminais. Ela encontrou alguns dados interessantes em seus estudos. Por exemplo:
– Uma pessoa mente de 10 a 200 vezes por dia;
– Pessoas inteligentes costumam mentir mais;
– Extrovertidos mentem mais que introvertidos;
– Homens mentem oito vezes mais sobre si próprios do que sobre outras pessoas, enquanto mulheres mentem mais para proteger alguém;
– Pessoas estranhas umas às outras mentem cerca de três vezes a cada 10 minutos de conversa;
– Se uma pessoa é vista como mau caráter, alguém irá mentir para ela mais facilmente;
– Pessoas ricas e mais poderosas mentem melhor;
– Mulheres lidam pior com a mentira do que os homens;
– O tipo mais comum de mentira é a omissão;
– Adultos conseguem distinguir a verdade da mentira em apenas 54% das vezes.
Segundo Meyer, qualquer pessoa pode treinar para se tornar especialista em detectar mentiras. A autora diz:
“Na vida, é bom ter um ceticismo saudável para fomentar seu otimismo. Detectores de mentiras treinados costumam ser positivos em relação à natureza humana, e emergem de confiança para proteger a si mesmo e os outros de mentiras e fraudes. A nível pessoal, isso oferece vários benefícios. As pessoas treinadas em detecção de mentiras podem viver mais feliz e plenamente, e se tornar mais capazes de se relacionar com familiares e amigos. Você fica mais seguro, e confia mais em seus instintos e julgamentos.”
Em Liespotting, Meyer afirma que a primeira forma de mentira é o autoengano, e esclarece a diferença entre mentir para si mesmo e para os outros:
“Mentir é um ato cooperativo. Ninguém pode mentir para você sem o seu consentimento. Uma mentira não tem poder pelo seu conteúdo; seu poder reside em alguém concordando em acreditar nela. Já o autoengano é relacionado ao ideal de perfeição. Todos nós desejamos ser melhores pessoas, mais bonitos, mais ricos, mais espertos, mais bem-sucedidos, mais altos, mais jovens, etc. Mentir para nós mesmos é uma tentativa de preencher essa lacuna, para conectar desejos e fantasias sobre quem gostaríamos de ser com quem realmente somos.”
Para detectar um mentiroso, Meyer orienta, deve-se observar os padrões de comportamento de uma pessoa durante certo período de tempo, para, depois, perceber quando houver desvios de conduta.
“Observe a postura da pessoa, sua risada, como ela lida normalmente com o estresse, o que ela faz para se acalmar, etc. Em seguida, fique atento aos sinais característicos de um mentiroso comum.”
Meyer classifica esses sinais em três categorias:
Segundo ela:
“As pessoas excessivamente determinadas em mentir usarão uma linguagem enrustida, não descontraída. Elas usarão frases de reforço e distanciamento como ‘eu não fiz isso’ ou ‘aquele homem cometeu um crime’. Os mentirosos apimentam sua história com detalhes inadequados e desnecessários para tentar provar que estão dizendo a verdade. Eles vão olhar nos seus olhos constantemente a fim de parecer honestos, quando, na realidade, a maioria das pessoas dizendo a verdade olha nos seus olhos durante 60% do tempo.”
De acordo com Meyer:
“Mentirosos não ensaiam seus gestos, apenas suas palavras. A carga cognitiva já é enorme, por isso, quando contam a sua história, os mentirosos congelam a parte superior do corpo, olham para baixo, diminuem o tom da voz, reduzem a respiração. E eles vão exibir um momento reconhecível de alívio quando a conversa acabar.”
Meyer orienta:
“Peça a eles para contar sua história de trás para frente. Os mentirosos não podem fazer isso. Pessoas honestas lembram de histórias em ordem de importância emocional. Mentirosos tendem a inventar histórias que podem ser contadas em um determinado período de tempo, e eles vão vacilar quando solicitados a contá-las de forma diferente.”
Imagem de capa: pathdoc/shutterstock
Assista a palestra de Pamela Meyer para o TED, de julho de 2011. Nela, a autora fala mais sobre a natureza de uma mentira e discute as particularidades de um mentiroso:
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