As pessoas costumam carregar consigo alguns fantasmas de relacionamentos passados, considerando que já tenham vivido experiências amorosas ruins. É conveniente expulsar esses fantasmas quando se está preparado para engatar outro relacionamento, ou então para conviver bem com um novo parceiro.
Estar assombrado por causa de um relacionamento passado significa que o olhar continua preso às cenas antigas com uma pessoa, as quais incomodam por terem gerado sofrimento. Essas cenas saltam da escuridão e obscurecem a perspectiva de amor verdadeiro no futuro. Mas qualquer fantasma pode ser expulso, desde que se esteja disposto a transformar esse sofrimento em oportunidade de aprendizado. A partir da percepção de que os males experimentados em relacionamentos anteriores servem como conteúdo para se evitar certos erros, as chances de um próximo relacionamento ser mais saudável aumentam consideravelmente.
Os seres humanos mantêm um porão onde estão guardados os seus fantasmas mais inconvenientes do passado. Quando se está infeliz com a realidade da afetividade atual, ou é porque o porão está aberto, ou porque novos fantasmas estão sendo lançados para lá. Manter o porão fechado pode ser uma tarefa que exige mais do que a força de vontade, especialmente se alguém está interessado em prosseguir com sua vida afetiva sem prejudicar a qualidade de relações atuais.
Quando ocorre um término de relacionamento, o luto torna difícil se abrir para um novo amor. Se o passado ainda não foi superado, um futuro decente não pode existir. A superação leva tempo, e alguns não conseguem ficar ilesos até que sejam capazes de se entregar novamente. Dizer que o tempo colabora no processo de cura é lógico, mas pouco ajuda aqueles que estão sentindo uma dor profunda no coração. Ser empático nesses instantes delicados tem mais valia do que bombardear o sofredor com obviedades da razão. Embora a cura aconteça de dentro para fora, contar com outras pessoas ajuda a promover uma força interativa mais eficiente. Há quem se isole e procure resolver seu sofrimento amoroso sem o apoio de ninguém, mas, a menos que se tenha um excelente motivo para isso, não é vantajoso.
O esquecimento não é algo que se controla e, costumeiramente, o desejo de esquecer aumenta o grau de emoção da lembrança, seja boa ou ruim. Assim, só se “esquece” uma pessoa por transposição, isto é, quando novas memórias e experiências relevantes ocupam o espaço das antigas.
É muito difícil renunciar a um grande amor que fez parte do núcleo existencial-afetivo. Aquela pessoa não precisa ser deixada para trás, mas é cabível que se reformule os pensamentos que se tem dela, de modo que ela passe a ser alguém pelo qual não se sofra mais. No final, a necessidade de sobreviver grita mais alto. A sanidade de ninguém deve ser colocada à prova de amor.
Memórias assombradas de dor trazem consigo uma sensação de desesperança. Frente a ela, muitas pessoas descrevem se sentir mudadas, achando que as coisas nunca mais serão as mesmas. Elas refletem sobre como os relacionamentos passados, abusivos ou não, as transformaram em um ser com mais cautela e ponderação. Em suma, a capacidade de manter relações “normais” é afetada. Isso porque a entrega afetiva foi tão grande que, agora, quando precisam voltar à sua forma original, percebem a dificuldade de se adaptar a um novo contexto sem a atuação das forças do amor que outrora surtiam tanto efeito. As pessoas são maleáveis até um certo limite, e pode ser complicado usar da elasticidade emocional para se recuperar de uma desilusão amorosa. Entender como funciona a mecânica interna das emoções associadas à perda de um amor não só afeta as chances de se viver relacionamentos estáveis, como também esses relacionamentos colaboram na própria saúde mental.
Se não é fácil estabelecer relacionamentos satisfatórios com novas pessoas em um período de “ressaca de amor”, talvez seja melhor aguardar pacientemente por um momento de sobriedade completa no qual não haja nenhuma forma de intoxicação. As ressacas são mais fortes quanto maior o abuso das substâncias viciantes. Uma grande quantidade de amor é capaz de intoxicar de tal forma que, passada a fase de encantamento, as crises de abstinência deixam a pessoa exilada em tormento. Para sair dessa condição é necessário fazer uma limpeza mental, trabalho que pode ser oneroso demais se a pessoa ainda estiver viciada naquele amor que não foi totalmente superado.
A pessoa descobre que está pronta para outra quando suas atitudes revelam um senso de conquista. Com o coração reaberto e a objetividade do amor em foco, ela transmite uma energia indisfarçável que atrai outras pessoas que estejam na mesma situação (de querer descobrir alguém). O comportamento confiante naturalmente faz com que as oportunidades batam à sua porta. O reencontro da autoestima e o investimento na própria personalidade marcam o início de uma revolução para encontrar alguém.
Superar um antigo amor é mais fácil se o relacionamento era tóxico de alguma forma: a pessoa foca nos aspectos negativos para se convencer de que aquele ex-parceiro não era o ideal. Se a relação tinha seus benefícios, mas não compensava em seus defeitos, é natural chegar à conclusão de que o término foi a melhor escolha. Mas essa racionalidade raramente condiz a uma perfeita assimilação da coisa.
Não é raro notar como alguns indivíduos se sentem céticos em relação ao amor após passarem pelo inferno do romantismo fracassado. Eles duvidam de sua capacidade de criar e sustentar um relacionamento novamente; seus olhos estão imersos nas labaredas do fracasso e o simples ato de abri-los para um novo horizonte lhes parece um absurdo totalmente fora de cogitação. “Não posso mais acreditar no amor”, “Isso não poderia ter acontecido”, “Estou perdido”, “Só me resta aceitar que o amor não existe”. Frases como essas resumem o niilismo característico de pessoas céticas para o amor. Os valores associados ao amor duradouro não deixam de existir só porque alguns descrevem uma realidade contraditória a eles.
O fantasma do amor antigo só é expulso da mente de uma pessoa quando ela se sente livre para confiar em si da mesma maneira que fazia antes de ter se frustrado. Não que ela vá se esquecer das coisas ruins que aconteceram, mas sim se lembrar de que uma experiência negativa não a definia quando estava realmente livre para amar. Assim, ela conseguirá se interessar por outro alguém, e toda vez que alguém se mostrar interessado nela, poderá corresponder devidamente. Agora, se o fantasma volta a assombrar a pessoa, então ela nunca o superou de antemão. Nesse caso, o mais importante é lutar para recuperar a liberdade, pois não se anda para frente com a mente presa no passado.
O amor pode ser idealizado, e comumente o é, mas não existe um amor perfeito; a perfeição no amor é fruto da passionalidade do coração e não um produto da razão. Quem procura a perfeição afetiva nunca está satisfeito, então deve abandoná-la. Ser realista quanto a isso significa entender que nem todas as histórias de amor remetem a contos de fada. O escritor russo Leo Tolstoi afirmou o seguinte:
“Somente as pessoas que são capazes de amar com vigor podem sofrer grande tristeza, mas essa mesma necessidade de amar serve para neutralizar sua dor e as cura.”
Na realidade, só é possível se curar de um sofrimento amoroso após tê-lo vivido até o fim. Sofrer faz parte de amar intensamente, e a resiliência é uma constante nas pessoas que se preocupam em nunca abandonar seu senso de amorosidade.
O fim de um relacionamento dói, mas pode ser uma oportunidade para sair da zona de conforto e enxergar a existência sob um viés mais aprimorado. Algo que nunca deixa de acontecer é a mudança. E chega um ponto em que as coisas pioram tanto, que a única alternativa é melhorarem. Focar na melhoria não é já melhorar, mas dar um passo em direção a melhora.
Às vezes, as pessoas se sentem tristes porque amaram demais e não foram correspondidas, mas, no final, elas ainda podem se orgulhar, pois não é fácil amar demais – alguns nunca o conseguem. No amor, é melhor pecar pelo excesso do que pela falta. O significado da palavra “amor” é muito maior do que a capacidade de compreendê-lo.
A modernidade trouxe um tsunami de solidão e individualidade que obscurece a capacidade de comprometimento. Para ninguém é surpresa que o romantismo de outrora está fora de moda. Mas nem tudo está perdido. Aqueles que se esforçam para serem românticos, por sua vez, são cada vez mais especiais, cada um à sua maneira otimista de cultivar relacionamentos. Uma das lições da modernidade é que a dedicação necessária à construção de confiança deve ser tomada como prioridade em um mundo de falsas aparências; do contrário, não há espaço para grandes realizações amorosas.
Alguns dizem que fantasmas de relacionamentos passados só podem ser expulsos após o início de um novo relacionamento. Mas é o contrário: um novo relacionamento é possível consequência dessa expulsão.
Outra questão difícil é a de superar um relacionamento passado no qual houve traição. O pior de uma traição é que ela vem justamente das pessoas que mais se preza. Nelson Rodrigues dizia que só o inimigo nunca trai. Quanto mais uma pessoa entrega seu coração, mais ela aproveita seu amor, e também mais vulnerável fica perante decepções. Não há como fugir do medo da traição sem fugir da perspectiva de se doar. Embora a doação afetiva seja arriscada, passar a vida sem se arriscar no amor é o pior dos riscos. Não existe uma pessoa que não tenha errado no amor, a menos que não tenha amado, e isso já é errar. Mesmo que existisse a infalibilidade amorosa, isso não proporcionaria nenhum ensinamento.
Seria bom viver um amor de mil maravilhas, sem nenhum problema? De jeito nenhum. Apesar dos problemas constituírem motivos para que se duvide ou desista do amor, sem eles nenhum amor sobreviveria. Afinal, não há percepção de vitória antes dos desafios. Os casais que mais geram admiração são aqueles que superam tantas intempéries quantas surgirem em seu caminho, mantendo o ideal de cumplicidade apesar de todas as experiências desvantajosas. Por outro lado, os casais que passam todo seu tempo compartilhando felicidades são tão previsivelmente falsos que ninguém se orgulha deles.
Algumas pessoas se sentem tão traumatizadas pela enorme carga de negatividade de relacionamentos passados que se fecham para todas as oportunidades futuras de realização amorosa. Mesmo que encontrem outro alguém, ainda carregam em sua bagagem aqueles fantasmas dos quais desejariam tanto se livrar, mas não conseguem. Desse modo, não há como viver um novo relacionamento de qualidade, porque os erros do passado prejudicam a conduta presente. Essas pessoas traumatizadas não só não esquecem de seus erros, mas vivem em função deles, dificultando qualquer aproximação saudável com um novo parceiro. Sobreviver a esse estigma se torna a tarefa primordial, em vez de viver um romance com entusiasmo.
Relacionamentos de recuperação são aqueles iniciados logo após um término, mas antes que as emoções do relacionamento anterior tenham sido resolvidas. Isso é um verdadeiro perigo, porque a pessoa pode projetar os problemas passados em seu caso atual, e com isso reviver os mesmos traumas que supostamente desejaria eliminar com o novo romance. Por isso, é mais sensato que aquelas emoções antigas sejam resolvidas primeiro, de modo que surpresas desagradáveis não surjam de envolvimentos posteriores.
Todos têm na pele cicatrizes oriundas de pessoas que cruzaram o seu caminho, e está tudo bem, desde que as feridas não reabram. Cicatrizes só existem em pessoas que tentaram amar e viveram.
Partindo da situação em que uma pessoa está triste por causa de uma relação amorosa rompida, talvez ela se sinta rejeitada ou maltratada em seu íntimo, passando a se ver pejorativamente e a condenar aquele que a fez se sentir assim. Essa reação negativa é quase inevitável, e somente com a restauração do amor próprio o ex-parceiro (visto como vilão) deixa de ser um encargo.
Esperar pouco dos outros é um posicionamento comum de quem esperou demais e se deu mal. A perspectiva de rejeição, maus tratos e desapontamento retarda a disposição de dar à próxima pessoa uma oportunidade. Porém, sem a permissão de abertura, não há como experimentar novidades. O risco do sofrimento pela concessão de fé no amor é inerente ao conhecimento desse amor. Não importa o quanto possa doer, desde que se esteja preparado para arriscar. Mas se arriscar não significa permitir qualquer tratamento; deve haver limites bem claros para o que é permissível ou não em termos de comportamento, com base na ética social.
Mesmo as pessoas consideradas insignificantes deixam lições valiosas para se prosseguir na vida de um jeito ou de outro. Aprender a usar essas informações a favor é um objetivo crucial na assimilação do sofrimento. Todo relacionamento produz uma série de aprendizados essenciais ao desenvolvimento da arte de amar.
Um romance apaixonado inspira sentimentos ardentes e poderosos quando as coisas estão indo bem, e sentimentos terríveis e dolorosos quando as coisas estão indo mal. São dois extremos passionais bem conhecidos. Pode-se ir do céu ao inferno, e vice-versa, em um curto período de tempo. Compreender que as coisas nem sempre acontecem como o desejado e saber aproveitar as boas épocas fazem com que parceiros amorosos não se sintam mal acostumados nem ingratos.
O fim de um relacionamento romântico de longa duração é realmente traumático, mas algumas pessoas conseguem passar por isso sem grandes dificuldades, embora seja uma proeza digna de nota. Recuperar-se completamente é o que se quer, mas, dependendo do caso, isso não é possível, pois uma história amorosa relevante acaba deixando marcas indisfarçáveis. O primeiro passo é desfocar da dor, para, em seguida, criar novas perspectivas de vida nas quais se consiga sobreviver sem aquele vínculo afetivo que se julgava tão necessário.
Enquanto uns desejam esquecer prontamente as negatividades de seus relacionamentos anteriores, outros vão no sentido contrário ao quererem reviver memórias positivas. Se ambos concordam que o término foi a melhor coisa a se fazer, então não há margem para a perpetuação de mágoas. Mas isso não significa necessariamente que todos os sentimentos antigos foram enterrados.
Uma forma interessante de decidir a continuidade ou não de uma pessoa na própria vida é verificando como ela se comporta quando não precisa mais de algo, seja o que for. Apesar de todo relacionamento ser baseado em interesses, a falta de interesses é uma condição segundo a qual se pode medir o nível de dependência que se tem de alguém. Sem a necessidade de contar com o outro para o que quer que seja, qualquer aproximação é vista com estranheza, ao passo que funciona como um recurso de identificação. Querer a companhia de alguém independente dos interesses envolvidos é mais saudável do que estar acompanhado de pessoas com as quais os interesses são as únicas razões da existência de intimidade.
Às vezes, o passado romântico é bem gerenciável e não causa maiores dores; em outras, a sua força vem como um trem desgovernado que acerta a autoestima em cheio. Quando o passado impede que uma pessoa evolua, ela deve se perguntar que tipo de âncoras a estão prendendo para agir no intuito do seu navio voltar a trafegar. O fato é que alguns não estão preparados para esquecer antigos amores, e outros ainda querem continuar sofrendo.
Em vez de dar atenção aos fantasmas do passado, é melhor se concentrar nas infinitas possibilidades de um romance inédito que seja mais interessante. É possível imaginar a dor de um rompimento abrupto, assim como a instigação de uma aventura que pode ser descoberta.
Os fantasmas só fazem morada em quem não oferece nenhuma resistência contra eles. Eles só interferem na vida daqueles que, por sua imaginação, estão preocupados demais com sua existência. Isso lembra um dito de Ralph Waldo Emerson:
“Podemos viajar por todo o mundo em busca do que é belo, mas se já não o trouxermos conosco, nunca o encontraremos.”
Algumas pessoas, de tanto se importarem com problemas crônicos de seu passado, os trazem para o presente, dão força e tangibilidade a eles, sem conseguirem vislumbrar novas alternativas de uma vida mais harmônica. Ainda que não sejam capazes de conceber a paz perpétua, podem ao menos se livrar dos seus devaneios mais limitantes.
O problema é que, de tanto dar importância aos fantasmas, torna-se um vício conviver com eles, e esse vício só pode ser destruído por uma força tão ou mais insistente do que a tristeza pelo que deu errado.
Há um ditado popular que diz: “Quem vive de passado é museu”. Embora o passado seja parte constitutiva da história de alguém, é crucial haver um filtro para as memórias que mais contribuem para o próprio crescimento.
Quando um antigo amor morre, o luto prejudica a capacidade de resiliência, mas também abre um novo leque de possibilidades afetivas. É benéfico imaginar que, após se ter perdido alguém, uma nova pessoa aparecerá. Há perdas que vêm para o bem.
Ter saudade de quem já foi embora é uma injustiça. Não compensa. Se a pessoa se concentra na fé do reencontro, e se esse apego a machuca, então o problema não está naquele alguém de quem se sente falta.
A dor de perder uma pessoa amada não pode ser ignorada, mas a marca da saudade afeta apenas os que se deixam levar pela melancolia. Todos que estão sofrendo por um amor sem sucesso são propensos a deixar que o vazio da nostalgia prejudique a sua atual realidade. O véu de tristeza que as acomete compromete a sua acessibilidade afetiva. É preciso respeitar essas fases ruins, mas também não deixar que ocupem todo o espaço da sensibilidade. Pior do que perder pessoas que se ama é se perder tentando fazer com que elas fiquem.
Fantasmas podem existir também nos casos em que não se tem certeza de que um antigo afeto devia ter ido embora. Fica no ar uma mágoa pelo fato de que a pessoa podia ter continuado ali, presente. Às vezes, a reconstituição do amor é a melhor saída, mas, se esse amor havia se tornado incompatível, não há o que temer: o que passou, passou.
O tamanho do sofrimento atrelado à falta de uma pessoa é condizente às expectativas que se criou junto dela. Quanto mais alto for o voo, maior será a queda. Em toda relação, os envolvidos planejam coisas em comum e querem que essas coisas se concretizem. Se a relação chegou a um fim, é possível pensar que tudo não passou de uma ilusão. Esse pensamento, além de não ser verdade, é bastante cruel. As pessoas têm a péssima mania de classificar seus relacionamentos passados como ruins se eles terminaram de forma absurda ou violenta. Elas se esquecem de todos os acontecimentos positivos que lhes possibilitaram chegar até certo ponto. Pensar que “se fosse bom, não teria acabado” é menos acalentador do que acreditar que, “se acabou, é porque deixou de ser bom”.
O processo de adaptação a uma nova fase da vida sem uma pessoa que antes era tão importante acontece de formas variadas, dependendo do grau do apego e da vontade que a pessoa tem de seguir em frente. É insensível exigir de alguém uma força que ela não está em condições de mostrar. Desse modo, não há solução que não esteja permeada de paciência. Paciência para que uma porta se feche e outra possa ser aberta. Sempre há pessoas novas para se conhecer.
Se há algo que irrita uma pessoa que esteja tentando superar um caso amoroso, é ouvir conselhos que lhe orientem a desapegar do que já não faz mais diferença. Se fosse fácil, ninguém sentiria saudade ou luto; ambos incomodam, mas não podem durar para sempre.
Ao mesmo tempo em que está fugindo de fantasmas, a pessoa pode ser também o fantasma de alguém, sem perceber. Ela quer se ver livre da pressão de um apego esvaído, mas está fazendo alguém sofrer. Certas vezes, amar significa deixar o outro ir embora. Só deve permanecer na vida quem por livre e espontânea vontade quiser permanecer. Afetos aprisionados não são afetos. Para quê alimentar o ego com falsas esperanças?
Decretar o fim definitivo de um relacionamento pode ser uma verdadeira tortura, mas também uma libertação. Para ser o algoz de alguém, a pessoa deve ter certeza de que a morte do amor antigo serve a um propósito mais elevado do que permanecer próximo de um ser humano com o qual não existe mais futuro. Com o tempo, a tendência é se sentir melhor, pois aquele peso que antes se carregava passa a ser supérfluo.
Para conviver em paz com os fantasmas do passado, é necessário fazer as pazes com o amor. Sim, porque, após um rompimento, é comum sentir raiva do amor. Raiva por ele não ter continuado da melhor forma possível, raiva por ter gerado tanta frustração.
Os flashes de memória daqueles momentos tão maravilhosos com o ex-parceiro são uma armadilha da imaginação, que não se preocupa com a decisão racional do rompimento. Se houve um término, é porque algumas coisas não estavam dando certo. Se ainda há insistência em voltar com o relacionamento, é porque resta uma esperança. Se ainda há esperança, talvez o término não tenha sido aceito, e então a pessoa é acometida por mágoa e arrependimento. Para se tomar uma decisão de terminar o relacionamento, não deve haver absolutamente nenhuma dúvida. Pois, havendo dúvida, a indecisão só leva os envolvidos a oscilarem emocionalmente, entre a vitalidade e a fatalidade. E isso, consequentemente, gera muita desolação.
Quando a saudade aperta a ponto de sufocar, quando as lágrimas do carinho lavam o rosto, quando a mente permanece ofuscada pelas ternuras de um amor que não tem mais serventia, nenhum silêncio conforta. Mas uma coisa é certa: se agora a pessoa existe em forma de fantasma, não é mais amor que se sente por ela.
É preciso acreditar que o amor se renova tantas vezes quantas forem necessárias, se a pessoa for habilidosa para administrá-lo. A tentativa de sair dos destroços que o romantismo passado deixou em busca de uma vida sem grilhões afetivos não é apenas o certo a fazer, como também livra as pessoas de pensamentos deprimentes.
Não adianta chorar se nada for feito a respeito. A vida oferece novas chances para quem está disposto a correr os riscos, mas se prender a um amor que já não oferece nada de bom e proveitoso não vale a pena.
Não admira a quantidade de pessoas que, desesperadamente, lutam por migalhas afetivas. A mediocridade em seu comportamento é inexplicável. É melhor não ter nada do que se desgastar por miséria. É necessário ter ambições extraordinárias quando o assunto é amor.
Nem todo mundo é capaz de aceitar o próprio passado romântico, principalmente se foi tenso. O surgimento do preconceito relacionado ao ex-parceiro é consequência direta de não conseguir perdoá-lo. O perdão é um ato de livramento. Mesmo que o ex-parceiro não mereça o perdão, a pessoa que perdoa pode fazer isso por ela mesma, para se sentir mais leve e desimpedida. Por mais que não seja fácil reconhecer todas as razões pessoais para perdoar, o ato de perdoar serve como um subterfúgio contra os monstros afetivos há muito tempo existentes. Embora seja improvável que alguém mude simplesmente por ter sido perdoado, aquele que perdoa com certeza sente uma mudança positiva.
Pessoas rancorosas sentem mais dificuldade para perdoar; elas fazem questão de lembrar das coisas ruins que lhes aconteceram e de quem foi responsável por isso. Ao rememorarem os detalhes das lembranças de alguém que as prejudicou, são forçadas a reviver esses detalhes nitidamente no presente. Ainda que seja adequado e mesmo necessário ter uma memória lúcida desses eventos prejudiciais, guardar rancor por conta deles acaba sendo uma escolha pessoal. Perdoar não significa se esquecer das lembranças ruins, mas fazer um movimento interno no intuito de se libertar das sensações negativas anexadas ao rancor. Quando alguém está disposto a perdoar, mesmo que ainda se lembre claramente do que o fez sentir-se magoado, é capaz de evitar sofrimentos repetitivos no futuro.
Bem, somente uma pessoa sem coração não sofreria após experimentar um grande amor que enfim acabou. Como não existe vida sem coração, o sofrimento é intrínseco à experiência do desapego. A vontade de permanecer junto de alguém com o qual o amor não continuou é fonte de muita dor, e de fato há um sem-fim de gente se martirizando por causa disso. Seria falso apontar uma solução imediata para essa tribulação e, mesmo se houvesse, as pessoas não a seguiriam, por motivos que elas sequer imaginam.
Cabe deixar o tempo amenizar o grande torrencial de amargura que resta de um amor que ainda não foi resolvido. Na verdade, não é o tempo que cura, mas o que as pessoas fazem com o tempo. Certamente o tempo demora para passar quando se está sofrendo por amor, mas quem sofre por amor deve usar com sabedoria esse tempo, por mais excruciante que seja. Distrair a mente passa a ser uma dura prova de resistência, que é facilitada se a pessoa tiver amigos verdadeiros com os quais contar. Nessas horas, a amizade verdadeira é mais importante que o amor. Muitas pessoas deixam de cultivar suas amizades enquanto estão namorando ou casadas, mas, cedo ou tarde, irão precisar delas.
Não é difícil encontrar pessoas que amam mais o seu parceiro romântico do que a si mesmas. Em primeiro lugar, elas não imaginam a sua vida sem esse alguém; em segundo lugar, elas não conseguem ser felizes sem esse alguém. O que dirá de sua existência se acontecer o que provavelmente elas mais temem: acabar o relacionamento? Apesar de ser uma possibilidade catastrófica para essas pessoas, a questão a ser discutida é o porquê de projetar o bem-estar individual em elementos externos. Talvez a razão esteja em uma profunda incapacidade de lidar com a solidão, de não saber conviver com o próprio eu em separado. A angústia que isso gera também produz o julgamento de que estar sozinho é uma doença. Muitos acreditam que ninguém merece uma vida solitária, mas a verdade é que sem aproveitar a própria companhia não há como ser feliz com segurança. A felicidade é uma construção melhor feita com outras pessoas, mas o problema está na visão de que ela depende de outras pessoas.
Alguns culpam o ex-parceiro pelas próprias misérias, como se o sofrimento pessoal fosse uma herança maldita do outro. Esse senso de vitimismo não ajuda em nada e, pior, faz com que os sentimentos negativos sejam agigantados. Assumir a responsabilidade pela própria condição miserável nem sempre é o justo, mas pelo menos a pessoa se sente mais feliz e orgulhosa quando recompensada por uma guinada positiva nos eventos.
Para se ter sucesso em um novo relacionamento, as pessoas precisam estar dispostas a ressignificar seus erros e ultrapassar as dificuldades do passado. Antes disso, é melhor nem se envolver. Se não é possível se livrar completamente dos pensamentos sobre um ex-parceiro, independente de ele ainda fazer falta ou não, é possível trabalhar a mente para que a importância desses pensamentos seja reduzida. Conforme vai ocorrendo o processo de superação, o ânimo para amar integralmente volta a fazer parte da pessoa, e é somente a partir de então que as novas oportunidades são almejadas e aproveitadas.
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