O mestre Dalai Lama, em seu livro “Uma ética para o novo milênio”, explica que para mudarmos os rumos do mundo para melhor é necessário haver uma revolução espiritual, o que concordo plenamente. Transcrevo uma pequena parte deste livro no qual ele fala sobre isso:
“A meu ver, nossa ênfase excessiva em ganho material reflete a suposição de que aquilo que se pode comprar é capaz de, por si só, nos proporcionar toda satisfação que esperamos. Entretanto, por natureza, a satisfação que o ganho material nos oferece está limitada aos sentidos. Isso seria ótimo se nós, seres humanos, fôssemos iguais aos animais.
Porém, dada a complexidade de nossa espécie- em especial o fato de termos pensamentos e emoções, bem como a capacidade de imaginar e de criticar-, é óbvio que nossas necessidades transcendem o que é meramente sensual. A ansiedade, o estresse, a confusão, a insegurança e a depressão que prevalecem entre aqueles cujas necessidades básicas foram satisfeitas são uma clara indicação desse fato.
Nossos problemas, tanto aqueles que enfrentamos exteriormente –como as guerras, os crimes e a violência – quanto os que enfrentamos interiormente – nossos sofrimentos emocionais e psicológicos -, não podem ser solucionados enquanto não cuidarmos do que foi negligenciado.
O descaso pela dimensão interior do homem fez com que todos os grandes movimentos dos últimos cem anos ou mais – democracia, liberalismo, socialismo- tenham deixado de produzir os benefícios que deveriam ter proporcionado ao mundo, apesar de tantas ideias maravilhosas.
Uma revolução se faz necessária, com toda a certeza. Mas não uma revolução política, ou econômica, ou mesmo tecnológica. Já tivemos experiências demais com todas elas durante o último século para saber que uma abordagem meramente externa não basta. O que proponho é uma revolução espiritual.”
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Essa reflexão do Dalai Lama é extremamente profunda. Eu penso no que ele falou da seguinte forma: se já foram feitas revoluções políticas, econômicas e tecnológicas e o mundo continua em profundo desequilíbrio, não adianta continuar seguindo por esse caminho, porque tudo vai continuar do mesmo jeito ou até piorar, entende?
Nessa hora, sempre me vem em mente a célebre frase do grande Albert Einstein e que não me canso de repetir: “Insanidade é fazer sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. É isso que vem acontecendo no mundo inteiro por séculos e séculos, as pessoas ainda não aprenderam a se voltar para dentro delas mesmas na busca espiritual, no crescimento interior. Se assim o fizessem, nosso mundo certamente seria bem mais equilibrado.
Porém, o Dalai Lama tocou em uma questão crucial e impede que isso aconteça, a enorme ênfase dada aos ganhos materiais, que só preenchem nossos desejos sensoriais, mas jamais preenchem o nosso interior, o dinheiro e o poder não conseguem alimentar a nossa alma, ela só pode ser alimentada com espiritualidade. Assim como os alimentos nutrem o corpo, a espiritualidade nutre a alma, e nós só podemos atingir o equilíbrio quando o corpo e a alma são nutridos com o alimento certo, entende? Muitos querem nutrir a alma com dinheiro, e o resultado se reflete pelo mundo afora: guerras, desamor, competição, egoísmo, ódio, vingança etc.
Quero expandir a reflexão sobre a espiritualidade. Milhares, talvez milhões de pessoas, têm dificuldade de entender o que a espiritualidade mais profunda. Confundem com religiosidade, o que é absolutamente diferente. A espiritualidade é tudo aquilo que toca nosso coração, que nos faz ser melhores, que nos faz olhar para as dores do mundo, das pessoas, dos animais, do meio ambiente etc.
Cuidar de animais abandonados ou doentes, participar de algum trabalho voluntário, fazer pequenos gestos de gentileza no cotidiano, fazer a coleta seletiva com atenção para não acumular lixo e promover a reciclagem, fazer meditação, buscar algum tipo de terapia ou mesmo escrever um texto como esse que você lê agora, tudo está no campo da espiritualidade…
É possível mudar a nossa realidade? Como? Faço minhas as palavras do mestre Dalai Lama, ele sempre fala em suas conferências que mudamos o mundo a partir da nossa mente e da responsabilidade universal, ou seja, cada indivíduo deve fazer a sua parte com o bem, deve procurar ao máximo ser bondoso, compassivo, altruísta, mas se isso não for possível, que pelo menos não faça o mal. Eu acabei de descrever em poucas palavras a base das práticas budistas, que admiro profundamente. Lembre-se sempre: “Se você não pode fazer o bem a alguém, que pelo menos não faça o mal”. Isso é espiritualidade! O que estou falando aqui transcende a esfera religiosa, está no campo dos princípios humanos e da ética. Quero aproveitar para deixar essa belíssima sugestão de leitura, o livro “Uma ética para o novo milênio”, do Dalai Lama, foi este livro que me inspirou a escrever esse texto.
Busquemos crescer na espiritualidade! Eu acredito profundamente que essa é verdadeiramente a revolução que esse mundo precisa para atingir o equilíbrio. Pense sobre isso…