Por que é tão difícil mudar, mesmo quando tudo que se faz continua dando errado? Por que, com todas as evidências de que, se não se fizer diferente, os resultados serão os mesmos, ou seja, a continuação de uma situação problemática ou desconfortável?

Cientistas tentam descobrir as respostas a essas perguntas no funcionamento do cérebro, como esse órgão fundamental falha, ao criar desculpas e explicações contrárias ao racional. É como se o indivíduo, apesar de saber a tabuada, não conseguisse dar a resposta correta, mas esperasse que tal situação acabasse por se resolver por si mesma. Ou que a resposta correta perdesse a importância. O que, no final das contas, é o que acaba acontecendo realmente: o hábito acomoda e a mudança parece distante demais.

Posso dar exemplos de que a maioria das pessoas já ouviu falar, ou testemunhou, ou, pior, vivenciou. Alguém que chega à meia-idade, com uma história de vida sem grandes aventuras, aparentemente estabelecido profissional e pessoalmente, e um belo dia, entra em crise. Descobre-se então um casamento infeliz, que se mantém há décadas por motivos outros que não afeto ou companheirismo, por questões econômicas ou religiosas, ou mantido pela preocupação com os filhos.

Há os casos de indivíduos que dedicam um tempo enorme a um trabalho que detestam, visando a aposentadoria, que lhes permitirá enfim usufruir a vida. O problema desse plano é que não há garantias, porque não se controla o futuro: de repente, vem a vida e muda as regras. E então, o que fazer?

Exemplos mais visíveis de mudanças necessárias adiadas por comportamentos repetitivos são, no caso de um obeso, abandonar hábitos mais saudáveis e voltar aos exageros alimentares, desistindo não só do objetivo emagrecer, mas também de recuperar a saúde, até o próximo encontro com as consequências negativas, como problemas orgânicos e uma nova tentativa de se cuidar, num ciclo vicioso.

Nos casos de tabagismo e adicção, quando é preciso interromper o consumo pelo desenvolvimento de problemas físicos, familiares, sociais e até complicações legais. Nas situações de comportamento desadaptativo, como o de compras compulsivas, jogo patológico, dependência de internet, quando o sujeito entra numa espiral de endividamento que resultará em prejuízos financeiros e emocionais crescentes.

Mas como explicar a repetição de comportamentos nocivos para o indivíduo e, muitas vezes, para os que o cercam? Como entender a recaída em situações com resultados desastrosos que alimentam o ciclo de sofrimento autoimposto que parece impossível de ser rompido?

A resposta para todas essas questões está dentro. Dentro de você, dentro de sua cabeça, mais precisamente, em seus pensamentos e crenças. O conceito de crença está associado, principalmente, à religião, como um paradigma que se baseia na fé, dependendo de uma disposição interna de crer em algo que não possui fundamentação racional ou comprovação. A crença basta-se a si mesma e não precisa de justificação empírica: não há questionamento, apenas aceitação. Na psicologia, o significado das crenças que são desenvolvidas na infância e orientam a trajetória de vida do indivíduo, suas escolhas e atitudes, não é muito diferente. Desde o nascimento, interagimos com um mundo às vezes acolhedor, outras, ameaçador, intrigante, seguro ou desafiador. Aprende-se a lidar com pessoas e acontecimentos, mas cada qual do seu jeito e com as ferramentas que conhece. E com a forma de pensar sobre si mesmo, os outros e o mundo, que desenvolveu ao longo do tempo.

Uma forma de pensar baseada em pressupostos rígidos, aceitos como verdades inquestionáveis, mesmo não apresentando evidências ou comprovação, ao contrário, levando a erro, frustração e sofrimento, é uma definição resumida das crenças de desvalor, desamparo e desamor. Presos a elas, os indivíduos consideram-se inferiores, incapazes de reagir e mudar a situação e, em muitas ocasiões, vítimas das circunstâncias.

Pessoas que se consideram indignas de receberem amor e de serem aceitas, imaginando-se um fracasso, agirão de acordo com esses pensamentos, experimentarão emoções negativas e não terão motivação para mudar seus comportamentos.

O caminho para interromper o ciclo de repetições e fracassos é o autoconhecimento, que proporciona a descoberta do verdadeiro potencial e a substituição de estratégias utilizadas para lidar com as situações que se repetem por outras mais favoráveis, desenvolvendo a capacidade de olhar a vida por uma perspectiva diferente.

Maria Cristina Ramos Britto

Psicóloga com especialização em terapia cognitivo-comportamental, trabalha com obesidade, compulsão alimentar e outras compulsões, depressão, transtornos de ansiedade e tudo o mais que provoca sofrimento psíquico. Acredita que a terapia tem por objetivo possibilitar que as pessoas sejam mais conscientes de si mesmas e felizes. Atende no Rio de Janeiro. CRP 05/34753. Contatos através do blog Saúde Mente e Corpo.

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