Por Marcela Alice Bianco

O que você faria se tivesse que escolher entrar por duas diferentes portas: uma com a palavra COMUM e outra com a palavra BONITA? Qual escolheria? Qual faria jus a sua percepção sobre si mesma?

Antes de continuarmos nossa reflexão vamos assistir como mulheres de diferentes partes do mundo reagiram a essa proposta:

Mesmo com um viés publicitário, o experimento não deixa de chamar nossa atenção para a questão da autoestima feminina. Toca num ponto importante nos dias de hoje: qual o nosso padrão de beleza e aceitação e, como isso influencia na maneira como nos enxergamos e nos permitimos ousar diante da vida?

A forma como nos avaliamos subjetivamente tem relação com a construção da nossa autoestima. Ela envolve um conjunto de atitudes do indivíduo sobre si mesmo, especialmente no que diz respeito a capacidade que cada pessoa tem de valorizar-se, amar-se, apreciar-se e aceitar-se. É um aspecto importante da personalidade, que influência na adaptação a sociedade, na qualidade de vida, nas escolhas diárias e no autocuidado.

Assim, para detectarmos como anda nossa autoestima podemos fazer perguntas como: Que imagem faço de mim mesma? O que posso esperar de mim e dos outros? O que mereço ser, ter e posso fazer?

Nas respostas para essas questões podem aparecer crenças que variam entre dois polos como:   “sou competente/ incompetente”; “consigo/ não consigo”; “vou agradar/ não vou agradar”; “o que eu faço é bom /bonito ou o que eu faço é ruim/ feio”; eu sou boa/bonita ou eu não sou boa/sou feia ou comum.

Dependendo da nossa avaliação pessoal e de nossas crenças, teremos diferentes ações diante da vida. Caso encontremos respostas positivas e encorajadoras tenderemos a agir com assertividade, segurança, confiança e iniciativa. Caso contrário, podemos nos apresentar temerosos e mais passivos diante da vida, agindo com cautela e por vezes, de maneira dependente ou resistente.

Pessoas com baixa autoestima possuem um distanciamento do próprio “self“, se preocupam em atender/agradar a expectativa dos outros, não se permitem errar, se auto desvalorizam, sofrem com sentimento de incapacidade, insegurança, impotência e pessimismo. Podem se mostrar mais tímidas ou até mesmo agir com irresponsabilidade diante da vida. Também podem ser imbuídas de um falso senso de superioridade ou vaidade excessiva para compensar e mascarar seus reais sentimentos sobre si.

Não podemos nos esquecer que a nossa autoestima é construída ao longo da vida. E isso começa na infância, geralmente associada às nossas primeiras figuras de cuidado e a sua aprovação diante dos nossos comportamentos. Assim, desde um vínculo de confiança e proteção, que responde prontamente às necessidades do bebê, até o elogios, críticas e tratamentos recebidos pela criança em função de suas atitudes, tudo funcionará como tijolos na edificação da autoestima, podendo ser construtivo ou destrutivo para si.

Com a entrada no mundo escolar e posteriormente, na adolescência, a opinião do círculo social, dos amigos, da mídia, da moda, etc. terão influência singular para a consolidação da autoestima do jovem. O bulling, a desaprovação de quem é ou o fato de não conseguir estar dentro dos padrões ditados pela cultura terão poder altamente destrutivo neste momento de florescimento da identidade e de transformação.

Todo esse conjunto de experiências do passado vão exercer influência significativa na autoestima do adulto. Em se tratando de padrão de beleza, isso influenciará no sentimento de estar bem consigo mesmo, de estar adequado ao mundo e também na possibilidade de se engajar em relacionamentos afetivos ou até de ser escolhido para uma vaga de emprego.

Especialmente no caso das mulheres, para nos sentirmos bonitas, lotamos academias, salões de belezas, adotamos dietas restritivas, gastamos excessivamente com roupas e sapatos. Tudo em busca do elixir da eterna juventude e da felicidade. Buscamos Afrodite por todos os cantos, nem que para isso precisemos nos flagelar e impor limites severos e que podem chegar a comprometer nossa saúde.

E será que se continuarmos buscando a deusa da beleza fora de nós um dia realmente a encontraremos? Talvez sim, mas até o próximo padrão de beleza se manifestar na sociedade!

Porque, se hoje se é bonita por ser magra e esbelta, em outros tempos o belo era ser roliça e curvilínea, símbolo de fertilidade. Porque já houve o tempo do cabelo enrolado, espetado, armado, curtinho, chanel e “liso chapinha”. E, portanto, se alcançarmos essa bonança, nos sentiremos bem até que novos ventos exijam outras adaptações e precisemos responder prontamente a solicitação que vem de fora de nós.

Portanto, para construir a autoestima precisamos começar a trabalhar de “dentro para fora” e não de “fora para dentro”. Compreender o que, na nossa formação de identidade, nos foi destrutivo ou construtivo para que nos sintamos “comuns” ou bonitas”. Construir nossos próprios padrões de beleza e aceitação. Reconciliarmo-nos com nosso corpo, com nossos traços, com nossa essência e com nossas capacidades.

Até mesmo Dumbo, o elefantinho com longas orelhas, descobriu seu talento quando mudou a forma de enxergar a si mesmo. É no olhar do Outro que nos reconhecemos, mas precisamos também escolher que “Outro” será esse! Escolheremos como nossos construtores de autoestima pessoas preparadas para nos cuidar, nos aceitar como somos e reconhecer nossos potenciais? Ou ficaremos com as referências doentias, inalcançáveis e destrutivas de quem não nos conhece ou nos ama verdadeiramente?

Penso que seja mais sensato ficar com as mulheres que, como a do vídeo, seguem juntas para a porta do BONITA e incentivam umas às outras a reconhecerem a si mesmas como belas e extraordinárias. Por que toda beleza é ímpar e cada pessoa é essencial!

Como diz Clarisa Pinkola Estés no livro Mulheres que correm com os lobos:

“Extrair grande prazer de um mundo repleto de muitas espécies de beleza é uma alegria na vida à qual todas as mulheres fazem jus. Defender apenas um tipo de beleza é de certo modo não observar a natureza. Não pode haver apenas um tipo de ave canora, apenas uma variedade de pinheiro, apenas uma qualidade de lobo. Não pode haver apenas um tipo de bebê, de homem ou de mulher. Não pode haver apenas um formato de seio, de cintura, um tipo de pele”.

No caso do vídeo vemos mulheres reagirem de maneiras diferentes. Poucas entraram de braços abertos e cabeça erguida reconhecendo a própria beleza e valor. Algumas não se permitiram a porta da BONITA, apesar de o serem. Mas, nos acalma a reflexão de que na próxima aceitarão sua beleza e se permitirão entrar pela porta que condiz com quem são.

Houve mulheres que precisaram de um estímulo, uma forcinha, um apoio e uma constatação. Nesta, chama a atenção a mãe, que apoia a filha e com isso resgata a necessidade da reafirmação do feminino nos tempos atuais.

E também existiram aquelas que passaram por uma verdadeira metamorfose quando se permitiram uma nova afirmação sobre si mesmas e mudaram sua decisão, desviando da porta COMUM em rumo não só a porta BONITA, mas ao reconhecimento, ao amor próprio e a aceitação de si mesmas.

E a porta BONITA estará aberta para você

Marcela Bianco

Psicóloga Clínica e Psicoterapeuta Junguiana formada pela UFSCar. Especialista em Psicoterapia de Abordagem Junguiana associada à Técnicas de Trabalho Corporal pelo Sedes Sapientiae e em Gerontologia pelo HSPE. CRP: 06/77338

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