Em 2009 fiz um curso chamado “A arte de contar histórias”, me inscrevi no curso, de maneira como já fiz com diversos outros cursos: porque o tema me interessava, subestimando o processo e sem esperar muita coisa. Mal sabia eu que aquele curso de fato mudaria minha vida. O curso foi na ONG “Casa do Contador de Histórias”, da qual desde então, com alguns intervalos, faço parte.
A Casa surgiu da profunda crença de que podemos mudar o mundo através das histórias, ela baseia seu trabalho em três grandes pilares: a Antroposofia de Rudolf Steiner, a psicologia de Jung e a Jornada do Herói, do mitologista Joseph Campbell. Com diversas rodas de histórias em instituições das mais variadas a Casa faz um trabalho profundamente tocante. Desde então já contei em creches, hospital psiquiátrico, asilos e agora para soropositivos.
Mas antes de seguir sobre o tema, deixa eu contar essa história do começo. Eu não tive muito contato com minha avó materna, meu avô materno não conheci, desde que ele faleceu, minha avó vivia em um apartamento no Centro com sua irmã, reclusa em uma doença que aos poucos lhe limitava os movimentos e que até hoje não sei dar nome, talvez artrite ou artrose. Ela era pequena, cabelos curtos e olhos azuis de uma profundidade que nunca mais conheci, tinha uma voz ao mesmo tempo rouca e suave e era uma pessoa muito doce.
Das poucas lembranças que tenho as mais fortes certamente são de quando ela me contava histórias. Na grande sala, do alto da estante eram guardados dois livros azuis intitulados “Fábulas Encantadas”. Sentada em sua poltrona azul aveludada, ela ia folheando os livros com as mãos fechadas pela artrose, contando histórias (que eu já havia decorado) e mesmo assim, eu curiosa e atenta escutava. Essas lembranças caminharam comigo pela vida e, anos mais tarde, também me motivaram a me inscrever para o tal curso.
É impossível falar da grandiosidade de algo sem que eu mesma tenha o experenciado, fato é que desde que comecei a contar, estudar e ouvir histórias minha vida realmente mudou. Histórias como “Azarenta”, “Os Sapatinhos Vermelhos” (do clássico “Mulheres que correm com os lobos” da contadora de histórias Clarice Pinkola Estes) e da brasileira Marina Colasanti me marcaram muito. Na verdade, é impossível dizer se foi essa ou aquela, acho que foi um conjunto de imagens das inúmeras histórias que incorporei na minha rotina.
Além dos contos e ficção, sou uma profunda entusiasta das histórias pessoais. Acredito que precisamos aprender a contar nossas histórias mais felizes e mais tristes sem sermos friamente julgados, mais que isso, precisamos aprender a escutar também outras histórias. Pois, no momento em que escutamos a história pessoal de alguém criamos elos. Qualquer tipo de preconceito pode ser quebrado a partir do conhecimento que adquirimos ao contar e escutar histórias.
A viagem, já disse Mark Twain, é fatal para o preconceito, a intolerância e as ideias limitadas. E isso dá-se ao fato de que é através do movimento que conheçamos essas outras histórias. É isso que me move a escrever, mesmo que exista muita auto-exposição nesse processo. E também o que me move a viajar.
O que me move a escrever é contar minhas histórias mais profundas e através disso incentivar os outros a fazerem o mesmo. É sabido que tudo que a humanidade produziu até hoje, nada mais é que grandes contações de histórias: os livros, as religiões, filmes, os fatos históricos, a filosofia, a ciência, tudo que existe é baseado em histórias contadas, muitas vezes de um só prisma, com cortes e edições, de acordo com o que é mais conveniente. E assim aprendemos a reproduzir esse mesmo “molde” também com as nossas histórias pessoais.
É importante para nós e para o mundo que comecemos a criar mais espaços de diálogos em que possamos recontar algumas histórias sem cortes, com mais verdades e todas as partes sombrias que nelas possam existir, porque só assim elas podem gerar profundas conexões.
Há algum tempo me deparei com o trabalho de uma pesquisadora americana chamada Brené Brown, ela passou mais de dez anos estudando aspectos de sentimentos como vergonha e vulnerabilidade, a conclusão que ela chegou é simples: nós nos conectamos nas vulnerabilidades. Ela também concluiu que estamos anestesiando nossas dores para que não fiquemos expostos à processos de vulnerabilidade e vergonha e isso é extremamente perigoso, uma vez que gera mais desconexão do que nos conecta.
“Quem não conhece sua história está condenado a repeti-la”. Portanto, nós precisamos conhecer melhor nossa história e começar a contá-las, sem cortes ou edição, para que possamos gerar mais conexão e trazer maiores transformações para o mundo, assim poderemos mudar paradigmas tão fossilizados em nossa cultura que precisam ser ressignificados e construir espaços de diálogos melhores. Portanto, era uma vez, apenas comece.
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