Título Original: Onze anos
Daqui a poucos dias é seu aniversário de onze anos, e eu já sinto saudade de te acordar com um beijo silencioso e ter seus bracinhos estendidos pedindo só mais um minutinho.
Enquanto me despeço dos seus dez anos, já sinto saudade da porta do banheiro aberta, das meias jogadas no chão do quarto, das migalhas de bolacha salpicando a mesa da sala de jantar.
Embora te apresse para chegarmos à escola no tempo certo, já sinto saudade de nossas conversas dentro do carro, de seu cabelo caindo sobre a testa, de suas mãos redondas envolvendo meu pescoço.
Mesmo que eu insista para que largue o celular e venha jantar, já sinto saudade da sua ladainha repetindo “já vou…” sem ter a intenção de ir, de suas queixas contra o cardápio do dia, de sua ansiedade infantil à espera da sobremesa.
É filho, a vida aprendeu a ser contada de uma forma mais simples ao seu lado, e por isso muito mais bonita.
Com você tenho aprendido a navegar em outro compasso, sem a necessidade de apressar a embarcação durante a bonança, nem de jogar a âncora quando o mar está revolto.
Sou aprendiz do seu amor. Aprendiz das coisas que você diz sem pronunciar, e que me alcançam através de seus gestos e intenções. Conviver com um menino de dez anos tem dessas coisas, e me preparo para o que virá assim que o calendário anunciar seu décimo primeiro aniversário.
Das coisas que quero lhe ensinar, está uma frase de um antigo filósofo chamado Confúcio. Ele disse: “Você não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do barco para chegar onde quer.” E é isso que eu quero dizer para você hoje:
Na vida, a gente não tem controle sobre tudo. Aliás, temos controle sobre muito pouco, e é só com isso que podemos contar. Porém, é possível concretizar os planos, realizar os sonhos e chegar onde se quer aprendendo a aceitar, a ouvir, a tolerar.
Não temos controle sobre o tempo que corre acelerado e leva embora pessoas que nos são caras; não temos controle sobre o que pensam a nosso respeito nem o que sentem por nós; não temos controle sobre a permanência de quem amamos em nossas vidas; e também não controlamos o modo que cada um decide trilhar o seu caminho.
Mas podemos aceitar o que a vida nos reserva. Aceitar as viradas de página e os fechamentos de ciclos. Aceitar e valorizar quem escolheu ficar ao nosso lado e respeitar a decisão de quem preferiu partir.
Você irá descobrir que nem tudo segue o script, e algumas coisas fogem do combinado mesmo. Mas não cabe a você convencer quem quer que seja de que a verdade lhe pertence. Aprenda a ouvir mais e aceite que nem todos são iguais. Tolere e respeite as diferenças, e aprenda a reagir com delicadeza às realidades que não pode controlar.
A vida tenta nos ensinar de diversas formas, mas poucas vezes estamos dispostos a escutar. Preferimos surfar na superfície a arriscar nos aprofundar. E o saldo é que não crescemos como deveríamos. Por isso, escute com atenção sua voz interior, aquela regida por Deus, e confie na pureza do seu coração. Que suas lentes perante o mundo sejam de tolerância, amor, caridade e perdão.
Por fim, não se blinde demais. A vida vai te derrubar algumas vezes, e nem sempre estarei ao seu lado para te ajudar a se levantar. Mas lembre-se do conselho que agora eu te dou: não desista de olhar a existência com olhos de amor. Pois por pior que sejam os momentos, eles são fases, e cedo ou tarde irão passar. E mesmo que fiquem cicatrizes, o vento nunca deixará de soprar. E é por causa disso que você tem que se permitir recomeçar. Pois como dizia Confúcio, “você não pode mudar o vento, mas pode ajustar as velas do barco para chegar onde quer” …
Imagem de capa: Ruslan Guzov/Shutterstock
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