Fonte- ONU Brasil
Em Boa Vista (Roraima), venezuelanos e brasileiros trabalham na construção de um hospital temporário para o acompanhamento e tratamento contra a COVID-19.
O local terá 1.200 leitos hospitalares e mais mil vagas para observação de casos suspeitos e está sendo construído pela Operação Acolhida, resposta do governo ao fluxo de migrantes e refugiados venezuelanos que conta com o apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e outras agências das Nações Unidas.
Conheça as trajetórias de Diego, Yasley e outros venezuelanos que conseguiram uma renda e se orgulham de participar dos esforços brasileiros contra o novo coronavírus.
Num canteiro de obras localizado próximo à sede da Polícia Federal em Boa Vista, os dias começam e terminam numa sinfonia de martelos, furadeiras e serrotes. As ferramentas são manuseadas por trabalhadores que falam idiomas diferentes, mas que se dedicam conjuntamente à urgente missão de finalizar um hospital temporário para o acompanhamento e tratamento contra a COVID-19, chamado de Área de Proteção e Cuidados (APC).
Em meio ao corre-corre da obra, trabalhadores venezuelanos revelam a satisfação em ajudar os conterrâneos e os brasileiros que os acolhem, pois o local atenderá refugiados e migrantes venezuelanos que estão em Roraima e brasileiros mais vulneráveis de comunidades locais em diferentes regiões do Estado.
Entre estes trabalhadores está o venezuelano Diego, de 33 anos, que veio para o Brasil em busca de refúgio e vive desde o ano passado em um dos abrigos da Operação Acolhida, resposta governamental ao fluxo de pessoas refugiadas e migrantes venezuelanas no Brasil, apoiada pela Agência da ONU para Refugiados, organizações parceiras e outras agências das Nações Unidas.
“Me sinto orgulhoso de estar ajudando no combate ao novo coronavírus. Esse lugar pode salvar a vida dos meus amigos venezuelanos e dos brasileiros que nos acolhem em Roraima”, diz Diego.
Construído pela Força Tarefa Logística e Humanitária da Operação Acolhida, a Área de Proteção e Cuidados terá 1.200 leitos hospitalares para o tratamento de pessoas infectadas e outras mil vagas para observação de casos suspeitos da COVID-19.
Neste momento, a obra é também uma oportunidade de geração de renda para os trabalhadores venezuelanos, quando tantas incertezas econômicas são geradas pela pandemia da COVID-19.
“Aqui no Brasil sei onde podemos ser cuidados. Mas tenho medo pelas pessoas que seguem na Venezuela, temo pelos meus filhos que estão lá”, preocupa-se Diego, que sempre envia dinheiro para os quatro filhos que ficaram no país – e tem na construção da obra sua principal fonte de renda.
Diego está entre os 25 trabalhadores venezuelanos que se uniram aos esforços da Operação Acolhida para construir a Área de Proteção e Cuidados. Muitos deles são gerenciados pelo empresário brasileiro Samuel Pereira da Silva, de 59 anos, carioca que se estabeleceu em Roraima. Outros 24 trabalhadores brasileiros completam o time de operários.
“Sentir o agradecimento desses homens que têm famílias e estão fazendo de tudo para prover o melhor para quem está aqui, brasileiros e venezuelanos, e para quem ficou na Venezuela é o que motiva a continuar”, releva o empresário, que emprega 13 dos venezuelanos envolvidos na construção do hospital– todos com carteira de trabalho assinada.
Além da equipe fixa, o empresário convoca diariamente outros oito venezuelanos que vivem em algum dos 11 abrigos temporários para refugiados e migrantes da Operação Acolhida em Boa Vista para fazer parte do time, recebendo “diárias”.
“Esta é uma demonstração clara de que refugiados e migrantes venezuelanos podem se juntar a moradores locais para promover a convivência pacífica entre comunidades e somar esforços em prol de soluções para todas e todos”, afirma Arturo de Nieves, coordenador das ações de campo do ACNUR nos estados de Roraima e Amazonas. Ele lembra que o local também atenderá a população brasileira, “reforçando a resposta nacional para garantir o acesso a saúde a todos”.
O sentimento misto entre a gratidão por estarem protegidos no Brasil e a apreensão com os parentes que ficaram no país de origem é comum entre os venezuelanos que trabalham incansavelmente para montar pisos e tetos das estrutura que receberá casos suspeitos e confirmados da COVID-19 identificados junto à população refugiada e migrante em Roraima.
É o caso da família de Yoslay Jose, de 21 anos. Ele, o irmão Jackon Jose, 33, e o pai, Jose Antonio, 59, trabalham há alguns meses no ramo da construção civil. E, com a empreitada atual, encontraram a oportunidade de trazer parte da família da Venezuela – a mãe e a irmã de Yoslay, bem como a esposa e filhos do Jackon.
“Viemos nós três primeiro para tentar conseguir algo e depois trazer minha mãe, irmã e cunhada. Estamos bem felizes com a oportunidade que tivemos”, diz Yoslay, que ainda tem familiares na Venezuela.
Sobre a oportunidade de trabalhar na construção do hospital, Yoslay confirma a importância de participar deste esforço. “Sinto que estamos ajudando as pessoas, tanto venezuelanas quanto brasileiras, que poderão estar em uma situação de saúde complicada por causa do novo coronavírus. Sou muito grato pela oportunidade de construir algo que irá ajudar. É como se estivéssemos retribuindo o que recebemos aqui no Brasil”, diz Yoslay.
Para o empresário Samuel, que adota medidas de segurança para proteger sua equipe do novo coronavírus, os ganhos financeiros não são determinantes para superar essa crise. “Ver essas histórias me motivam a continuar aqui”, diz ele, que ensina técnicas da construção civil ao seu time, provendo capacitação e experiência profissional. “Se podemos ajudar, por que não o fazer?”.
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Imagens: Trabalhadores venezuelanos e brasileiros que atuam com a Operação Acolhida e agências da ONU em Boa Vista- Foto: Allana