Quando o bebê chega em casa, o instinto materno conduz para os cuidados desse novo ser. Ansiando pelo cuidado adequado, a mãe ou o casal decide colocar a criança no mesmo quarto e até mesmo na mesma cama que eles. Garantindo assim o cuidado extra que imaginam ter que despender ao recém nascido.
Para os pediatras, dormir com a criança pode causar acidentes fatais. “É alto o risco de sufocamento do bebê que dorme na cama com os pais”, diz o pediatra Sylvio Renan, autor do Blog do Pediatra. Para ele, o bebê deve permanecer no quarto dos pais em um moisés ou no carrinho só durante o primeiro mês de vida. “Isso diminui a ansiedade e facilita o aleitamento”, diz.
Mas, se seu filho já tem mais de um mês de vida, não há razões para que ele permaneça no mesmo quarto que seus pais. Há questões subjetivas implicadas também considerada “fatais” pelos psicanalistas.
Ao ocupar a cama dos pais, a criança ocupa outro lugar subjetivo na família que não é o dela. Podemos nos perguntar: quem dorme com a mãe? Porque o pai deve dormir com a mãe? E porque os adultos dormem juntos?
Um casal dorme junto para estreitar a relação, torná-la íntima a ponto de haver relação sexual. Certo?
Então o que uma criança faz na cama de seus pais? Que relação estreita é essa entre mãe e filho ou pai e filho que é necessário dividir o espaço de intimidade, inclusive sexual e do corpo erotizado?
Desde Freud sabemos que há sexualidade infantil e que essa sexualidade passa por fases, onde a criança descobre seu corpo e o prazer que pode obter dele. Ao deitar-se constantemente com um adulto, o mesmo influência nessa sexualidade, com a proximidade demasiada do corpo da criança com o corpo do adulto, podemos ter certeza de algumas consequências- que vão desde insegurança, alterações alimentares e de qualidade de sono até sentimentos de incapacidade, angustia ou fobias.
Ao ser mantida no lugar que não é dela, o lugar da cama que deveria ser do parceiro afetivo do progenitor, a criança é incumbida, inconscientemente, de ser um parceiro numa posição diferente ao de filho.Vê-se no lugar de seu pai ou de sua mãe e angustia-se pela impossibilidade de ser. É impossível para a criança ser o adulto que ocupa a outra metade da cama.
Sabe-se que a criança, em determinado momento de sua infância, identifica-se com um dos progenitores. Consegue resolver suas inquietações quanto ao amor despedido hora para um, hora para outro de seus pais. Identifica-se com ser homem ou ser mulher. Como fazê-lo se esta ocupando antes mesmo de sair desse conflito, o lugar designado, na cama, de ser esse homem ou essa mulher? Veja que há uma escolha objetal em jogo e fica muito mais complicado se esse jogo for entre os lençóis de seus pais.
A relação de dependência afetiva também é mantida. A criança que permanece no quarto dos pais, também permanece naquele primeiro mês de vida onde não podia cuidar-se minimamente. A estada no quarto ou na cama dos pais, assegura-lhe um ser incapaz de crescer e de cuidar-se sozinha.
Mais grave ainda quando a criança já é um pré-púbere. Como amar outra mulher se ocupo o lugar de um homem na cama de minha mãe? O pré adolescente que se encontra ainda na cama de seus pais, além de infantilizado, também se vê proibido de amar um outro que não esteja no triângulo entre ele e seus pais.
Muitos pais se tornam dependentes da estada do filho em suas camas. Causando-lhes fortes dores psíquicas. Tornando-os escravos de uma infância a serviço do desejo do outro. Esses pais desfazem-se de suas vidas sexuais. Um ciclo de dependência e angustia se criam.
A criança ainda pode se sentir tão poderosa a ponto de nortear a vida da família. “Sua majestade o bebê” pode tudo. Decidir o que come, onde vai, o que compra e inclusive quando seus pais terão intimidade e se terão. O quarto e a cama de seus pais também serão são seu reino e sua coroa.
(Autor: Raquel Romano, psicóloga, psicanalista e psicopedagoga)
(Fonte: http://rrclinicapsi.com.br)
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