Crianças invisíveis são aquelas que estão sofrendo de algum abuso, mas não sabem que podem pedir ajuda, que não têm para quem se dirigir quando algo que lhes prejudica ocorre.
Elas são crianças comuns, que pertencem a diferentes tipos de família, pobres ou ricas, e sofrem o que podemos definir como desproteção infantil.
A desproteção infantil pode acontecer sob a forma de maus-tratos físicos ou emocionais, abuso físicos em seus corpos ou negligência familiar.
As chamamos de invisíveis, pois ainda é raro que tenham auxílio e proteção devida. Normalmente estão sozinhas para lidar com seus sentimentos e suas emoções.
No ano de 2010, em Palma de Mallorca, Espanha, ocorreu uma exposição com desenhos de crianças que sofreram maus-tratos. Por meio de acompanhamento psicológico e terapêutico elas conseguiram expressar um pouco do que sentiam usando o desenho.
A mostra completa reuniu 18 desenhos de crianças entre 5-15 anos de idade. As imagens demonstram uma realidade que choca e assusta- veja alguns dos desenhos no final da matéria.
Além dessa exposição, foi feito uma campanha – Los monstruos de mi casa (Os monstros da minha casa) – que busca revelar uma sociedade culpada que negligencia casos de abusos e maus-tratos dentro de famílias, rompendo com possíveis normas de privacidade, a campanha produziu um documentário.
O documentário (final do texto) apresenta testemunhas e experiências de pessoas que sofreram tais abusos na infância e análise de psicólogos.
Monstros existem, sim. Não são como os filmes de terror, nem engraçados como os das animação Monstros S.A., mas tem em comum viverem numa Sociedade Anônima, silenciosa, quase invisível, até que a realidade vem à tona. A sociedade é anônima, quando percebe o que acontece com o vizinho e não se manifesta, não denuncia, se exime de responsabilidade… A omissão é tão severa como a ação…
Como bem fala o neurólogo Boris Cyrulnyk, um dos maiores especialistas em resiliência:
“Quando se pensa em abandono, se fala da rua, mas ele ocorre dentro da casa também”. Uma realidade desconhecida de muitos e que merece ser discutida na comunidade escolar, em defesa da dignidade humana e do direito de criança ser criança.
Documentário produzido em 2010, com duração de 59 minutos, dirigido por Marte Hierro e Alberto Jarabo e produzido por Quindrop, tem como protagonista Carmen Artero, uma mãe de acolhida de Mallorca, Espanha, que luta para criar uma fundação para defender os direitos da infância.
Acompanhado de cada desenho há observações feitas pelos profissionais responsáveis pelo acompanhamento das crianças.
Andreu, 8 anos
Foi abusado pelo padrasto desde os 4 anos. No desenho, ele representa ele mesmo em pânico e dá atenção especial ao zíper da sua calça e os botões de sua camisa. Para ele, isso representa um símbolo de quando os atos sexuais iriam começar.
Miriam, 9 anos
Sofreu abuso psicológico. Sua mãe chegou na Espanha com 15 anos de idade e grávida dela. Ela era uma minoria racial por lá e sofreu abusos dos colegas de classe por conta de sua etnia. Ela é a menor pessoa do desenho, que está envolvida com alguma coisa, representando sua solidão. No canto, ela tinha escrito “me sinto sozinha” mas apagou porque tem vergonha.
Fernando, 13 anos
Ele foi abusado pelo seu pai desde cedo, e agora mora com a mãe, que conseguiu fazer ele se recuperar bem. Ele desenhou o pai como um demônio em um bar, bebendo cerveja e jogando em caça-níqueis. Os riscos saindo do demônio representam o cheiro de álcool. Fernando sente raiva quando mencionam o pai perto dele.
David, 8 anos
Ele sofreu abuso sexual. No desenho, ele destaca os olhos e o pênis do agressor.
Ele escreve também “marica” e “chupa-rolas”. O agressor falava isso enquanto o estuprava.
Joan, 8 anos
No desenho ele coloca o cara que o estuprou numa gaiola fechada com um cadeado.
A chave (no canto superior direito) é protegida por espinhos para ninguém conseguir pegar.
Ester, 9 anos
Ela desenhou a posição que tinha que ficar quando o seu pai abusava dela.
Toni, 6 anos
O especialista pediu pra ele desenhar o cara que abusou dele.
Ele disse “é um monstro”. Destacou o pênis ejaculando.
Victor, 7 anos
Ele era obrigado, aos 4 anos de idade, a fazer sexo oral no seu pai.
A linha que sai da boca dele e vai até o pênis do pai representa a sua língua.
Abaixo, o vídeo completo que trata do assunto:
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Fontes indicadas: