Quem não conhece a frase “Cuidado com seus desejos, eles podem se tornar realidade”? Pode parecer um conselho incoerente, afinal, qual o problema de os desejos se realizarem? São eles que impulsionam os homens. Sem eles, a acomodação seria normal, a ciência não progrediria, as conquistas em todas as áreas do conhecimento ocorreriam por obra de alguns sonhadores, ou seja, os avanços da humanidade seriam apenas resultado da visão de excêntricos, exceção e não regra. E a maioria teria uma existência previsível, que seguiria com pouco ou nenhum risco.
Todo dia, milhares de pessoas se dedicam a projetos que envolvem desde buscar novas oportunidades de emprego, ganhar dinheiro ou (re)começar os estudos, até objetivos mais íntimos, como ampliar o círculo social, se apaixonar ou se recuperar de uma decepção. Está comprovado que as metas impulsionam as pessoas e dão sentido à existência. É normal desanimar por causa das dificuldades, mas quem perde a capacidade de lutar por seus desejos pode ficar deprimido. Tristeza muitas vezes impede de sonhar e lutar.
Os problemas surgem quando os desejos se tornam ideias fixas, não importando o que diz a voz da razão. Exemplo disto é o indivíduo que se acredita apaixonado, não é correspondido e persegue o alvo de sua afeição, certo de que a capitulação do outro é questão de tempo. Ou os casos de pessoas que insistem em manter relacionamentos onde dão mais afeto, carinho e atenção do que recebem, aceitando uma posição de submissão e, às vezes, abuso físico e psicológico, em nome do amor, apostando que sua compreensão transformará o outro.
Quando a ascensão profissional e financeira se torna prioridade, e a preocupação com status, a ambição e o desejo de poder acabam sacrificando outras áreas e afastando a pessoa da família, é preciso parar e repensar seus valores. Se o sujeito se tornou escravo dos seus desejos, quer porque quer alguém ou alguma coisa, pode acabar se frustrando e trazer infelicidade para si mesmo e para os outros. Ficar obcecado, seja lá pelo que for, limita a vida e as possibilidades e é prejudicial ao coração e à alma.
Livros de autoajuda vendem a ideia de que tudo é possível, basta acreditar cegamente e seguir o passo-a-passo desenvolvido por seus autores. Possivelmente funcione para algumas situações ou sirva para indicar pontos a serem trabalhados, mas a resolução de problemas e o efetivo progresso estão nas mãos de cada pessoa, acontecendo de acordo com suas características e estágio de preparação. Não adianta ter altas expectativas e grandes metas quando não se está pronto para comemorar pequenos ganhos, suportar alguns fracassos, ser flexível e, principalmente, ter em mente que as mudanças nem sempre são agradáveis.
É preciso mais do que desejar algo para obtê-lo. Autoestima na medida, determinação, foco, organização, capacidade de análise e observação e preparação são requisitos básicos para se ser bem-sucedido em qualquer projeto. Saber usar talentos e habilidades para superar obstáculos e estar atento aos pensamentos, emoções e comportamentos que sabotam seus planos. Usar os erros como alavanca para melhorar, não para se recriminar ou se vitimizar, pois são eles que propiciam a evolução. E, principalmente, ser fiel a si mesmo, separando suas reais necessidades daquelas fabricadas pela sociedade de consumo e vendidas como garantia de satisfação. É refletir que, para ser feliz, o fundamental é ser e não ter.
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