A culpa faz o gênero daquelas pessoas que chegam sem ser convidadas, se instalam, falam mais alto que os outros, mandam desligar o ar condicionado e ainda fazem os anfitriões se sentirem incompetentes.
A sua missão é desorientar as convicções, fragilizar as certezas, deixar vulneráveis ações e reações. Dessa forma ela se fortalece, ganha espaço e vai marcando o território até que não haja mais nada nem ninguém livre de sua presença.
A culpa quer ser carregada, alimentada, refrescada, idolatrada. Uma vez dona do espaço, não dará mais um minuto de paz à vítima, e, habitará sem pudores até mesmo os pensamentos da pobre alma. A culpa não aceita desculpas. Não abre mão de suas conquistas, não aceita a porta aberta para sair, e, muito pelo contrário, te culpa se você não a convidar para ficar.
A culpa embarca clandestina numa crítica maldosa. E, num piscar de olhos, ela já é a comandante do barco.
Também entra se esgueirando por preconceitos e pudores artificiais. E mostra a cara quando vira de lado e acusa quem lhe abrigou.
Não há ser vivente sem uma pitada de culpa. É da vida, é consequência de alguns arrependimentos e malfeitos. Mas, e nisso consiste a força que deve ser empregada, essa culpa convidada, só tem por direito ficar até que as coisas voltem aos seus lugares. Não é permitida à culpa, a permanência depois da visita do perdão, das desculpas, do entendimento e libertação.
Se é para certo que somos movidos por tudo o que já vivemos e disso nos moldamos, que a culpa seja parte desprezível nesse processo. Que seja devidamente desalojada, despejada, minimizada, já que não constrói nem nada ensina. E no lugar por onde estava espalhada, que cresça a espontaneidade, o senso de justiça, a empatia.
Em terra onde florescem essas árvores, a culpa nem vinga!
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