Cura-me o sonhar!

Quando fecho meus olhos para dormir, avisto um barco branco ancorado em uma rocha firme. Deduzo que ele está à minha espera.
Quando abro os olhos, não o vejo mais. Torno a fechá-los… Ele vai surgindo com nitidez cada vez maior. Balança,como que sorrindo, convidando-me para ir ao seu encontro.
Aonde será que ele quer me levar?
Aceito ou não aceito? Dúvida que se desfaz, rapidamen- te. Vejo-me correndo em sua direção, agarrando suas extremi- dades, jogando-me avidamente em seu interior.
O barco zarpa suavemente e eu me sinto embalada… Brinca alegremente com sua amiga água; ele a respeita, ela o banha e acaricia seu casco.
Encantada, sento-me no convés e abro meus pulmões para receber a brisa que toca meu corpo e rosto. Tudo que exis- te é belo e faz seu caminho: o Sol, a Lua, o barco, as águas e eu…
Vivo noites maravilhosas, onde a lua e as estrelas apro- ximam-se trazendo uma sensação tão forte de paz que tenho a impressão de que posso pegá-las.
Em noites de tempestade, as águas agitam-se e gritam, o barco balança com maior vigor, as estrelas e a Lua visitam outros mares… São momentos difíceis!
Agarro-me com fé em meu barco, pois sei que tudo passará. Confesso que, por algumas vezes, em momentos de tur- bulência, pensei em desistir, ciente de que, bastaria abrir meus
olhos, nada mais existiria…
Entretanto, sempre foram alguns segundos, pois me mantinha convicta de que nada me faria abandonar meu barco!

Ouço cantos de aves que se aproximam… Imagino que chegam com ramos verdes de árvores em seus bicos… As águas vão enfraquecendo… Os olhos não sabem se devem ou não se abrir. Postergo… Algo me diz que está bem perto o momento exato de uma revelação… Porém, aflita, não sei se estarei pre- parada para recebê-la.
Então, como que em câmera lenta, o barco vai se trans-
formando em letras gigantes formando uma palavra: VIDA.

Imagem de capa: Avesun/shutterstock







Psicóloga , escritora e avó apaixonada pelo seu neto e pela vida. Autora do livro "Varal de sonhos" e feliz demais com os novos horizontes literários que se abrem.