Por Tatiana Nicz
Útil:
1 O que é útil.
2 Que é necessário; que tem préstimo ou utilidade; proveitoso; vantajoso.
Meu pai tinha uma mania bem peculiar de nos ensinar lições através de ditados: “cabelo é igual planta, só se molha de dia” ele me dizia quando eu saia do banho a noite com o cabelo molhado; “abra a janela, minha filha, porque o quarto precisa respirar”, falava quando topava em mim pela casa ainda acordando; “one apple a day keeps the doctor away” caprichava no sotaque enquanto cortava as frutas em pedaços pequenos e iguais todos os dias pela manhã; “quem usa a cabeça o corpo não sofre” repetia enquanto eu me batia com algo (ou em algo) devido minha terrível mania de “ser muito rápida no gatilho”, segundo ele. “Mastigue 33 vezes minha filha” e, claro, eu nunca mastigava.
De todos os ditados que ele usava tem um que anda muito vivo no meu momento atual, quase escuto ele me dizendo: “se você quer que algo seja feito com eficiência dê para alguém que não tem tempo”. E acho que esse eu finalmente aprendi. Ele era essa pessoa. Um cara extremamente organizado e eficiente. Uma pessoa útil na vida de todos que conviviam com ele, inclusive, claro, na minha. Tinha horas que ele se irritava com a carga que delegávamos à ele e dizia “eu queria mesmo era ser inútil, porque para o inútil ninguém nunca pede nada”.
Essa semana eu tive uma crise de stress por conta da carga de responsabilidades que fui assumindo ao longo dos anos, é certo que minha família não facilitou muito e conseguiu me dar material suficiente para complicar além da conta todos os processos. O saldo disso para mim é: o cargo de curadora da minha mãe, as propriedades da família, dois inventários em andamento onde respondo por minha mãe (um deles há mais de 10 anos), o inventário do meu pai, apartamentos para esvaziar e uma quantidade de coisas e documentos infinita que meus pais guardaram em suas vidas. Fora isso tenho o meu trabalho, porque gosto muito do que faço e porque assinar papéis, ir em cartório, banco, contador, fórum, contratar advogado não paga minhas contas, muito pelo contrário.
Olha, eu não sou muito de ficar metendo a boca no Brasil, eu amo o meu país, mas quando se trata de burocracia acredito que poucos países no mundo se igualam ao nosso. E se tem algo que me enlouquece é essa bur(r)ocracia. E os meus processos são tão complicados que nem os próprios funcionários dos estabelecimentos conseguem me orientar. É algo enlouquecedor e já pensei em abandonar tudo, mas daí lembro que até para isso a burocracia é enorme. Então estou de mãos atadas. Quando surge algo já tento resolver de maneira rápida e eficiente “não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje” quase escuto a voz do meu pai, mas parece ser impossível resolver tudo hoje e suspeito que amanhã e depois de amanhã também, porque sempre aparece mais coisa pelo caminho. Pois é, os entrelaços e raízes da burocracia no Brasil é realmente algo a ser estudado por psicólogos.
E então me lembro do conceito de útil, da importância da utilidade das coisas e das pessoas. Porque a sensação que tenho é que o mundo se encheu de coisas, aparatos, informações, processos, sistemas e pessoas inúteis. Sei que sou meio “control freak”, realmente tenho dificuldade em delegar as coisas, levei oito anos para pedir socorro para minha irmã e mesmo assim ainda fiquei com uma boa parte do trabalho (o burocrático, claro). Mas também existem pessoas que não nos passam confiança, confiança de que podemos deixar o que for em suas mãos e ela ou ele dará conta, em tempo. Acho que como meu pai brincava em suas horas de stress, tem muita gente se fazendo de inútil por aí, tirando o corpo fora ou na verdade nem colocando-o para dentro em primeiro lugar.
Quando fiz uma limpa na minha casa comecei a estudar o Feng Shui, não sou de ir a fundo e ficar bitolada em uma só filosofia, mas gosto de pegar um pouco de cada coisa que me seja, claro, útil. O Feng Shui diz que todos os objetos da casa devem ter utilidade ou ser de nosso gosto, nada quebrado ou inutilizado deve permanecer nos ambientes. Pensando nisso doei 3/4 do meu guarda-roupa (um estudo diz que usamos apenas 20% do que temos), mandei consertar roupas que não usava, transformei vestidos em saias, preguei botões e até costurei, levei todos os eletrônicos quebrados para conserto e doei os que não me eram mais úteis. Hoje mais do que nunca, aprendi a apreciar tudo aquilo e todo aquele que é útil, para mim ou para o mundo. E as coisas por aqui estão funcionando. Só o que não funciona hoje na minha vida mesmo é, obviamente, a (maleeedita) burocracia.
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