Houve um tempo em minha vida que eu não sabia desejar.
Desejava pouco, não me achava à altura de receber tanto, e não estava pronta para querer o melhor.
O algodão doce, com aquela textura que desmancha na boca e enche os olhos, não era pra mim. Preferia brincar de riscar o chão com o palito que sobrava a me lambuzar com o açúcar colorido daquela nuvem açucarada.
Imaginava que podia ser feliz sem desejar muito. É certo que podia, mas será que lá no fundo eu não tinha medo de ser feliz por completo?
O medo de desejar e não conseguir, a dúvida de correr o risco de me frustrar e a pequena estima que eu tinha por mim mesma me isolavam de tudo de bom que a vida me reservava.
Mas a vida me surpreendeu, e me deu de presente o algodão doce inteiro, gigante, colorido e muito açucarado.
Aprendi a aceitar os presentes da vida. Aprendi a permitir que a doçura me encontrasse e saciasse meu paladar. Aprendi a não recusar o melhor que pode me acontecer, e finalmente entendi que mereço boas surpresas sem me sentir endividada.
A auto sabotagem é muito perigosa. Diferente da humildade, que aceita e agradece, a auto sabotagem é orgulhosa, afasta as boas surpresas e se presenteia com avareza. Aceita farelos, recusando a fatia inteira por não ter aprendido a reconhecer-se merecedor.
Quero mais nuvens de algodão em minha vida. Quero pedaços inteiros derretendo em minha boca e sujando meus dedos. Quero açúcar colorido borrando meus dentes e enfeitando minha língua. Já não me contento em riscar o chão usando o palito do algodão doce que não provei.
Que você deseje o melhor da vida e descubra que não há mal nenhum em aceitar a felicidade inteira, doce, completa.
Que você recuse o café morno, o vinho insosso, o leite rançoso.
E perceba que merece o dia que começa com um bule cheio de café quentinho, xícara de porcelana, beijo de bom dia, pãozinho da padaria, roupa que serve, sapato que não aperta, cabelo que coopera.
E, enfim, que reconheça que não há mal nenhum em desejar o melhor da vida a si mesmo.
A vida _ e os algodões doces _ agradecem…
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Imagem de capa:r Kseniia Perminova/shutterstock