Das nossas batalhas, perdas e ganhos, sabemos nós, e mais ninguém.

Como seria magnífico se tivéssemos, acerca do tratamento de nossos próprios dilemas, a mesma desenvoltura que temos com relação aos dilemas alheios.

As histórias vividas pelo outro parecem sempre menos desafiadoras do que as nossas. Temos sempre a impressão de que a sorte dos vizinhos, dos colegas, dos familiares, do pessoal que aparece na revista, nas fotos pelo mudo postadas nas redes sociais, é sem nenhuma sombra de dúvida mais brilhante do que a nossa.

A questão é que a gente vê um episódio ou outro e acha que tem recursos para interpretar toda a temporada. Ora, ora… isso é, para dizer o mínimo, uma tremenda sacanagem.

Basta que a gente faça um exercício breve ao contrário. Pense em quantas vezes você deu um duro danado para conquistar coisas, que foram avaliadas por pessoas que mal o conhecem como um golpe de sorte ou “super valorização” (hehehehe) – acontece até com a Meryl Streep, não vai acontecer com você, por quê?! Pense em quantas vezes você foi silenciosamente forte diante de situações impensáveis, que foram julgadas como corriqueiras pelos demais.

Nem é preciso fazer muito esforço, não é mesmo? Das nossas batalhas, perdas, ganhos, períodos de secas ou enchentes, sabemos nós, e mais ninguém.

E ainda que sejamos aquele tipo de pessoa que é “pau pra toda obra” e que se possa contar a qualquer momento, seja de vitória, derrota ou tédio… ainda assim, o que podemos ofertar é a nossa mão, nosso ombro, algum recurso material ou amoroso. E é só!

E não, eu não acho que isso seja pouco. É muito, até! Principalmente se levarmos em conta que cada um vive a própria vida, na maior parte das vezes, e pouco se mexe para socorrer os aflitos ou desvalidos.

O fato é que esse “muito”, essa tão bem-vinda ajuda, suporte ou apoio, são externas ao sofrimento. A gente pode se alinhar à dor do outro, a gente pode – e deve -, exercitar a empatia. Mas a gente NUNCA vai saber exatamente a dimensão do estrago.

Sendo assim, antes de sair por aí tecendo, em pensamentos ou palavras, verdadeiras análises dos tropeços, enganos, deslizes, acertos e conquistas dos nossos companheiros, próximos ou nem tanto, contemos até mil.

Ninguém é capaz de entender todo um livro, baseado na leitura de alguns capítulos. Sobretudo se essa tal leitura for feita assim “por alto”, não é mesmo?!

Imagem meramente ilustrativa: cena do filme Carol, 2015.







"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"