Quando nada tinha, tudo queria, tudo parecia necessário e imprescindível. Não conquistando, abria mão. Por fim, esquecia. Trocava o desejo por outra conquista. E assim foi passando, com alguns resultados favoráveis e outros nem tanto.
A gente quer muito! Os primeiros ideais são de absoluta perfeição. Nada fora do lugar, nenhum fio de cabelo despenteado, nenhuma frustração, negativa, rejeição. Um sonho, uma ilusão, com forma, conteúdo e riqueza de detalhes.
Então a vida vem e diz que não vai ser bem assim, que muitas das nossas vontades batem de frente com vontades alheias, que nossas ambições vão certamente entrar em conflito com outras ambições, que a maioria dos nossos desejos não serão realizados. Não sem uns bons ajustes e tempo de espera.
E a solução que a gente tem é se adaptar. Espremer um pouco, chegar mais para lá, customizar uma vontade, trocar por outra, encarar a frustração com a nota de maturidade esperada, para não desajustar, não surtar, não apelar.
Difícil esperar sim e receber não. Às vezes dá para disfarçar, dizer rápido que “nem queria tanto assim”. Outras, o chão se abre tanto que é preciso ajuda de alguém querido para não desaparecer no vácuo.
Eu, particularmente, não sou dessas pessoas nascidas viradas para a lua. Acostumada que estou com os nãos e os terríveis quem sabe, talvez por isso valorize tanto uma resposta positiva, um retorno favorável.
Se antes nem merecedora me julgava, agora isso passou. Os questionamentos pairam por outras instâncias… De tanto nada ter, agora penso que de nada preciso. Não é totalmente verdade, mas é reação. Ainda quero muitas coisas, e mais, afetos.
A vantagem que se tira disso é selecionar as vontades sem as transformar em necessidades.
Não há ânsia, sofrimento, frustração.
Quando não temos nada para segurar, as mãos livres abrem outras portas e possibilidades.