Numa era em que a beleza é considerada um valor imperativo, principalmente para as mulheres, certos padrões são impostos e as características de um corpo envelhecido não estão entre eles. No entanto, envelhecer não tem de significar a perda de qualidades, beleza, sensualidade e sexualidade.

Há cerca de dois anos, a atriz brasileira Betty Faria, com 72 anos, foi fotografada na praia em biquíni. Esta situação poderia não ter nada especial se a atriz não tivesse sido insultada nas redes sociais. E porque é que foi insultada? Porque se achou que foi uma”falta de bom senso” e que “uma senhora de 72 anos deveria ter mais dignidade” e, portanto, não usar um biquíni. O policiamento do corpo envelhecido de Betty Faria não foi uma situação única, visto que muitas outras pessoas, em grande parte, mulheres, celebridades ou não, passam pelo mesmo.

A atriz brasileira Betty Faria, com 72 anos, na praia de biquíni

A repulsa que outros sentem pelo corpo de uma mulher “de uma certa idade” faz com que ela própria não se sinta confortável na sua pele e que lute com unhas e dentes contra o passar dos anos.

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Ser-se belx prende-se, essencialmente, com o ser-se jovem visto que a maioria das sociedades, principalmente as ocidentais, relacionam a felicidade e a beleza com a juventude. Os ideais de beleza, que podem ser um valor fundamental principalmente para a Mulher, vão para além das mudanças no corpo – ele tem de permanecer jovem e bonito para sempre. Não é aceitável, nem tolerável, alguém feio, e este facto é-nos apresentado pelas inúmeras imagens comercializadas, publicidade e indústrias da moda e da cosmética. Toda a imagética e o imaginário de alguém velho e bonito não é permitido e, quando ambos estão em sintonia, é porque, aos olhos da sociedade normativa, essa pessoa parece mais jovem do que realmente é.

A atriz norte-americana Cindy Crawford, com 49 anos, numa fotografia sem Photoshop onde mostra a barriga depois de duas gestações.

Para a escritora americana Susan Sontag, no seu artigo “The Double Standarts Of Aging”, “envelhecer é muito mais um julgamento social do que uma eventualidade biológica”. Inevitavelmente, os corpos mudam à medida que se envelhece: a pele perde tom e elasticidade, o cabelo vai ficando grisalho e, no caso das pessoas com útero, o papel social ligado à maternidade chega ao fim com a vinda da menopausa. Então, para a Mulher, envelhecer representa a perda da beleza e sensualidade, que lhe atribuíram valor enquanto jovem, mas também da sua sexualidade. A sexualidade de uma mulher mais velha é, muitas vezes, vista com repulsa pelo facto de se pensar que o corpo perdeu a sua validade e que agora, que já se tem “uma certa idade”, não pode ser mostrado, visto, apreciado e/ou venerado.

Estas normas sociais, que fazem as pessoas pensar de uma dada maneira, reforçam estruturas de poder e dominação masculina.Sentir repulsa do corpo velho de uma mulher é reforçar estruturas de opressão feminina. A depreciação do valor de uma Mulher “de uma certa idade ” enquanto ser humano em função do seu corpo é reforçar uma visão da Mulher apropriada e objectificada.

A modelo Jacky O’Shaughnessy, com 62 anos, numa campanha da marca American Aparell cujo lema foi “A                                                               sensualidade não tem data de validade”.

O que vale é que estas normas, apesar de persistirem na sociedade e residirem nas mentalidades de cada um, podem ser desobedecidas.Deixem-se envelhecer, sem embaraço. Abracem os corpos e mostrem as vidas que viveram. Sejam felizes.

Por MARGARIDA HENRIQUE
Fonte:O C da Razão

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