Por Maria Cristina Ramos Britto
Quem nunca ouviu o comentário de que depressão é excesso de passado e ansiedade, excesso de futuro? Quem sofre de depressão vive preso a tristezas que se foram e, ao mesmo tempo, parece que não querem partir de fato, e de tanto tempo que permanecem, acabam tomando assento no corpo e na alma. Ao contrário do que se acredita, a depressão não se manifesta apenas por apatia ou desinteresse, mas também por comportamento agitado e irritação. Mas, independentemente do comportamento, os pensamentos negativos que dominam a pessoa deprimida a convencem de que nada que faça mudará a situação em que se encontra.
Já quem padece de ansiedade vive sobressaltado com o que ainda não aconteceu, mas parece inevitável, mesmo que nada indique que a previsão catastrófica se cumprirá. É como esperar uma carta que nunca foi escrita e que, portanto, não será recebida. O problema é que a pessoa crê realmente no perigo iminente e inescapável, vivendo em função de evitá-lo, através de fuga da situação ou do objeto causador da angústia (fobia, fobia social, transtorno de pânico, transtorno de estresse pós-traumático [TEPT]), ou da repetição de rituais que ela pensa poder neutralizar o perigo e lhe dão alívio momentâneo (transtorno obsessivo-compulsivo [TOC]), ou de preocupação, dúvida, expectativa e medo constantes (transtorno de ansiedade generalizada [TAG]).
A ocorrência de um transtorno depende de fatores biopsicossociais, ou seja, para seu desenvolvimento concorrem predisposição genética e de personalidade, influência do meio (família e demais interrelações), acontecimentos traumáticos (violência física e/emocional) e momento de vida, representado por mudanças bruscas, como desemprego, perda de ente querido, transferências de trabalho ou local de moradia etc. Hábitos de vida pouco saudáveis, como uso abusivo de álcool e drogas, má alimentação e sedentarismo também contribuem para a piora do estado emocional.
A depressão autoalimenta-se do sofrimento decorrente dos pensamentos negativos acerca de si mesmo, do mundo e dos outros. A ansiedade é a sensação de que o mundo é um lugar cheio de armadilhas à espreita na próxima esquina. Ambos os estados dão ao indivíduo a percepção, errônea, de que está preso ao que passou ou ao que virá, sendo mero espectador dos fatos, e não agente das transformações necessárias para vencer a depressão e controlar a ansiedade. A terapia, ao trazer o indivíduo para o presente, ajuda-o a se perdoar pelo passado e se fortalecer para o futuro.