No coração da gente nunca deveria caber nada gelado, possível de estragar, suscetível ao frio. Coração é fogueira que transforma as coisas cruas em delícias, quebra os gelos e derrete camadas, esteriliza, desinfeta!
Se você está usando o seu coração como geladeira, é provável que nem consiga ver o que tem dentro, no meio dos potes e vidros, tudo guardado, etiquetado, refrigerado, e com data para acabar ou ir para o lixo.
A versão piorada seria um freezer, temperaturas realmente baixas, tudo estocado, no meio da névoa, sem vida, sem chance de reanimar.
Assim podem ser as nossas relações. Estocadas e seguras, mas geladas e insossas.
E, apesar de acreditarmos que dessa forma não corremos o risco de ferimentos, sim, o gelo também pode queimar, machucar, rasgar a pele e nossa alma.
Nosso coração tem natureza quente, se envolve, envolve outros, tem ritmo, fluxo, disparos, acelerações. Nossas emoções mais intensas são verdadeiras tochas que tanto devastam como aquecem. Essa medida é o desafio muitas vezes de uma vida, mas aí mora a nossa busca. Equilíbrio, discernimento, harmonia… um pouco de cada já garante um morninho gostoso, já balanceia as chamas e impede que o vento as apague.
Assim como esfregamos as mãos para as aquecer, também nosso coração precisa muitas vezes de uma ajudinha. Os dissabores, os traumas, as decepções e frustrações são como aquele vento gelado que a gente demora a perceber, mas vem constante e implacável na sua rota, esfriando e condensando nossas emoções, nossa capacidade de reagir, insuflando o cansaço e a exaustão. For fim, se nada fizermos a respeito, se não gritarmos por socorro, implorarmos um calor extra, um abraço, uma palavra amiga, um ato de amor, estaremos em pouco tempo, vencidos e frios, duros e insensíveis, como cubos de gelo.
É hora, portanto, de ir à floresta, catar os gravetos e folhas secas, as dores e desamores, juntar tudo e atear fogo, deixar queimar, desinfetar, ficar perto do calor, se aquecer… Deixar o coração ser a fogueira que mantém a vida acesa!