Definitivamente, é impossível escrever sobre intensidade sem me expor, eu me esforço, em vão. Eu demorei muito para fazer as pazes com esse traço da minha personalidade. Até isso acontecer, eu vivia me esforçando para ser diferente, eu tentava ser mais comedida, mais serena, sei lá. Hoje, olho para trás e percebo o porquê de ter rejeitado a minha própria essência, por décadas. É porque sempre fui criticada pelas pessoas que me cercavam, pessoas essas que eram significativas para mim.
Por todos os lados, as críticas vinham, de primas, de colegas, amigas enfim. Eu me lembro que eu ía, toda empolgada, falar sobre uma grande paixão por um rapaz, e, ouvia da outra parte: “nossa, pra quê isso tudo?” Eu me lembro perfeitamente do quanto me sentia ridícula e sem noção. Eu não me aceitava, queria me encaixar naquele perfil de mulher que não demonstra euforia por nada, na verdade, eu sentia uma grande necessidade de ser aceita, queria vivenciar o sentimento de pertencimento dentro do meu grupo de convivêncica. Queria ouvir algo positivo sobre essa minha característica, eu precisava que alguém me dissesse algo do tipo: “você é intensa, que lindo, você sente tudo com a alma”.
Eu era incompreendida, também, na forma de sofrer. As minhas dores, saudades e nostalgias parecem diferentes das demais pessoas. Já chorei dentro de um supermercado porque estava tocando uma música que meu pai gostava, as lágrimas rolaram imediatamente. Já pedi um abraço a uma senhorinha na fila do verdurão porque ela se parecia muito com a minha mãe. Abracei, chorei e fiz ela chorar também. Eu fico com nó na garganta quando ouço cigarras cantando, porque o som me leva à infância na roça e aquele baú de nostalgias.
Eu me encanto diante de um pé de flamboyant florido, não importa quantos eu tenha visto num mesmo dia. Eu gosto de datas, eu tenho mania de pensar: “há exato um ano, eu vivi tal coisa, e me jogo nas lembranças”. Eu sempre tenho uma música que marcou cada acontecimento.
Eu não meço esforços para viver aquilo que me encanta. Eu sou aquela mulher que embarca num avião e vai para outro estado conhecer, pessoalmente, alguém que despertou o meu encanto. E vou com tudo, obviamente, com a certeza da reciprocidade, sou intensa mas, não sou inconsequente. As minhas paixões são muito viscerais, os meus lutos, também. Eu tenho pavor de viver certas experiências de forma automática.
Finalmente, quando entrei nos quarenta anos, pude me entender, me aceitar e me abraçar com esse mar de intensidade que trago na alma. Pude entender que, na realidade, a minha forma de sentir incomodava, especialmente, as pessoas apáticas, que não viam encanto em mais nada. Então, eu simbolizava uma afronta á forma delas de verem a vida. Hoje, me olho com orgulho, amo ser assim. Tenho a sensibilidade de uma brisa, mas posso ser um vendaval. Eu aprendi a respeitar e a apreciar as minhas lentes de enxergar a vida. Eu nunca mais me senti inadequada. Serei intensa enquanto eu respirar, essa é a minha condição para existir.