Marcel Camargo

Deixe ir : prefira alguns meses de coração partido a uma vida inteira de decepções

Talvez um dos maiores entraves que nos emperrem o seguimento de nossa jornada venha a ser o medo de sofrer. Tememos enfrentar muitas dores, porque achamos que não conseguiremos suportá-las e, por essa razão, muitas vezes acabamos trazendo um sofrimento ainda maior para nossas vidas, mantendo conosco o que não nos ajuda a sermos felizes; muito pelo contrário.

Dentre os sofrimentos que evitamos, encontra-se o medo de nos separarmos do parceiro, que nem mais parceiro é, que nem mais nos ama, nos pede, nos chama para si. Protelamos, assim, um rompimento que já se tornou urgente e necessário, evitando tomar a atitude certa, a única atitude, aliás, possível e coerente naquele momento, uma vez que a manutenção desse alguém conosco está acabando com nossa vitalidade, com nossa razão de sorrir, com nosso potencial em amar com reciprocidade.

Por mais que o outro nos ignore, nos esqueça, nos torne invisíveis, muitas vezes acabamos tolerando além da conta, ainda que se extenuem nossas forças, mesmo que avisemos e avisemos de novo. Porque a gente acreditou tanto, a gente investiu tudo o que tinha, a gente se doou e se entregou de forma transparente e por inteiro, a gente quer dar certo no amor, ou seja, aceitar a falência daquilo que tomou tanto da gente dói demais.

E, assim, vamos mantendo em nossas vidas exatamente quem deveria ficar bem longe, quem já teve a chance de fazer parte de nós e não fez a menor questão de se doar, de compartilhar, de ser junto, quem nos vê somente como provedores de algum conforto, de alguma coisa de que ele precise, de tudo o que não implique troca e sentimento humano. E, assim, vamos aumentando nossa dose diária de dor e de sofrimento, exatamente porque pensamos estar evitando a dor da separação.

É preciso deixar ir. Deixe que vá quem fica por comodismo, quem fica como peso, como bagagem inútil, quem só recebe e nada devolve, quem não nos percebe, não nos enxerga, não nos espera pra nada, por nada. Mande embora de sua vida quem encostou feito gelo, quem suga, quem mente, quem pratica o tanto faz. O sofrimento por quem vai embora é dolorido, mas libertador. Prefira a dor do rompimento que aos poucos acalma a um sofrer diário por medo de sofrer. Dor sem fim ninguém merece, muito menos você.
***

Acompanhe o site do autor em Prof Marcel Camargo

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

Recent Posts

Tire as crianças da sala antes de dar o play nesta série cheia de segundas intenções na Netflix

Uma série perfeita para maratonar em um fim de semana, com uma taça de vinho…

2 dias ago

Você não vai encontrar outro filme mais tenso e envolvente do que este na Netflix

Alerta Lobo ( Le Chant du Loup , 2019) é um thriller tenso e envolvente…

2 dias ago

Trem turístico promete ligar RJ e MG com belas paisagens a partir de 2025

Uma nova atração turística promete movimentar o turismo nas divisas entre o Rio de Janeiro…

2 dias ago

Panetone também altera bafômetro e causa polêmica entre motoristas

O Detran de Goiás (Detran-GO) divulgou uma informação curiosa que tem gerado discussão nas redes…

2 dias ago

Homem com maior QI do mundo diz ter uma resposta para o que acontece após a morte

Christopher Michael Langan, cujo QI é superior ao de Albert Einstein e ao de Stephen…

3 dias ago

Novo filme da Netflix retrata uma inspiradora história real que poucos conhecem

O filme, que já figura entre os pré-selecionados do Oscar 2025 em duas categorias, reúne…

3 dias ago