Vanelli Doratioto

Depois dos felizes para sempre: os relacionamentos em 10 filmes fantásticos

Mais que a consagração da união entre duas pessoas que se amam, com ou sem festa, uma união afetiva fala de amor, compreensão, companheirismo, maturidade, aceitação e dinamismo em encontrar soluções conjuntas.

Na lista abaixo vocês encontrarão dez filmes que nos incitam a pensar mais à respeito do que vem depois do famoso “Felizes para sempre”.

1 – CENAS DE UM CASAMENTO, Ingmar Bergman, 1973

A dor e a raiva, a paixão e o amor, o riso e as lágrimas. Todas as “estações” do que é estar vivo e partilhar vida são tratadas nesse belo filme. Apreciado principalmente na Suécia, país onde a tv o exibiu em forma de minissérie antes, “Cenas de um casamento” não nos fala de forma doce ou leve sobre as relações humanas. Em diálogos ácidos, os personagens, dentre eles o casal Johan e Marianne, deixam aflorar seus mais ocultos ressentimentos e amarguras; tudo condizente com o cinema de natureza psicológica do diretor Ingmar Bergman. O filme tem um efeito quase documental. O espectador percebe cada gesto, cada sorriso como se estivesse ao lado dos personagens em um enredo demasiadamente humano, que carrega questionamentos acerca de temas como a existência, amor, relações familiares, dentre outros.

2 – SHIRLEY VALENTINE, Lewis Gilbert, 1989

Shirley Valentine é uma dona de casa que todos os dias arruma a casa, passa roupa e prepara o jantar para o marido. Em certo ponto Shirley decide seguir seus mais loucos sonhos e isso inclui uma viagem para a Grécia. Engana-se quem pensa que vai encontrar nesse filme uma comédia romântica clichê. O texto esbanja um senso de humor ácido, amparado por uma estrutura deliciosamente farsesca. A protagonista, vivida competentemente por Pauline Collins, conversa com o público durante todo o filme e o faz tão confidente quanto as paredes de sua casa, que a escutaram por longos anos. Filme primoroso!

3 – COLCHA DE RETALHOS,  Jocelyn Moorhouse, 1995

O filme “Colcha de retalhos” narra as experiências de vida de um grupo de mulheres maduras que costumam reunir-se a cada ano para confeccionar uma colcha de retalhos, cujo tema escolhido na ocasião é “onde mora o amor”. Cada uma delas borda um pedaço de pano que se relaciona metaforicamente ao que sentem. Ao final elas unem todos os pedaços formando uma linda colcha artesanal bordada de histórias. Essas histórias são no filme objetos de estudo da mestranda Finn, uma jovem que se encontra dividida entre casar-se com o homem que ama e sua liberdade. Esse é um daqueles filmes absurdamente tocantes. Cheio de simbologias, reflexões e ensinamentos, “Colcha de retalhos” dedilha carinhoso as relações humanas, deixando ao final uma sensação boa de quero mais. Imperdível!

4 – ENCONTROS E DESENCONTROS, Sofia Coppola, 2004

Duas pessoas se encontram por acaso em um hotel em Tóquio. Ambas são estrangeiras, casadas e estão lá de passagem. Uma é Bob Harris: famoso ator americano de meia idade que foi para lá sozinho, para gravar um comercial de Whisky. Ele se mostra entediado, sofre de insônia, está casado há 25 anos e tem um casal de filhos, no entanto é um marido e pai ausente. A outra é Charlotte, uma moça de Nova York que está acompanhando o marido fotógrafo, com quem se casou há dois anos, contudo ela pouco o vê. Ela e Bob se encontram no hotel e aos poucos se aproximam. Cria-se entre eles uma imensa empatia. Esse encontro tem certo tom erótico, mas o que prevalece entre ambos é o desejo de compartilhar experiências. De forma delicada o filme, dentre outras coisas, nos faz refletir acerca do casamento e do que deveria ser inerente a ele.

5 – FOI APENAS UM SONHO, Sam Mendes, 2009

Nos EUA, na década de 50, a vida se resumia, para o homem, ter um mesmo emprego por anos, casar, ter filhos e comprar uma casa pela qual pagaria pelo resto da vida e, para a mulher, usufruir de seu lar recheado de eletrodomésticos e fazer dele o local perfeito para uma vida perfeita, no entanto uma vida perfeita não existe. April e Frank formam o típico casal aparentemente feliz dessa década e tudo parece correr como deveria, contudo, ambos não se sentem realizados. Esse filme toca em um tema delicado: a frustração de se conformar em nascer, crescer, trabalhar, casar, ter filhos, casa própria, envelhecer e morrer – tudo isso sem muitos riscos e sem grandes entusiasmos.

6 – MAIS UM ANO,  Mike Leigh, 2010

O que fazer para manter a felicidade tão próxima por tanto tempo? O longa inglês “Mais um ano”, um filme simpático com diálogos sensacionais, busca responder a essa pergunta. Na trama, um casal (interpretado por Jim Broadbent e Ruth Sheen) sempre tenta ajudar amigos a saírem de problemas. Durante um período, que definimos como ciclos em estações do ano, a casa deles vira um verdadeiro consultório para ajuda e conselhos que contam com diálogos muito bem escritos. Um filme para cinéfilos pacientes que trata da vida e do tempo no qual ela pacientemente se faz.

7 – TERÇA, DEPOIS DO NATAL, Radu Muntean, 2010

Em “Terça, depois do Natal” o personagem Paul está diante de um impasse rodrigueano: a preparação do seu Natal promete ser duplamente torturante porque ele é casado com Adriana há dez anos e há seis meses tem como amante Raluca, a dentista da sua filha. Assim como o trágico herói de Nelson Rodrigues que não aguenta mais almoçar duas vezes em casas diferentes, Paul tem que conciliar a agenda de fim de ano de sua família com a da família de Raluca. A banalidade do dia a dia, interações mecânicas, horários e compromissos cumpridos por inércia interessam ao diretor romeno Radu Muntean e tudo isso pode ser encontrado nesse filme inquietante.

8 – NAMORADOS PARA SEMPRE, Derek Cianfrance, 2011

Nesse belo filme acompanhamos as dificuldades de um casal durante o casamento. Apesar do título, essa não é uma história romântica. Dean (Ryan Gosling) e Cindy (Michelle Williams), ele pintor de casas e ela enfermeira, tem uma filha pequena e enfrentam problemas no relacionamento após dez anos juntos. O filme vai e volta no tempo como se tentasse descobrir o que deu errado no caminho desses dois. Para Dean a resposta parece ser “nada”, mas para Cindy as coisas não parecem tão tranquilas assim. O diretor e co-roteirista levou mais de uma década para levar o filme às telas, tendo declarado que o roteiro teve mais de 67 versões anteriores. O resultado é um excelente filme, com ótimas atuações, que prende a atenção do público do começo ao fim.

9 – ANTES DA MEIA-NOITE, Richard Linklater, 2013

Em 1995, o diretor Richard Linklater, ao lado dos atores Ethan Hawke e Julie Delpy, lançou um dos romances mais interessantes do cinema, a jornada de Jesse e Celine em “Antes do Amanhecer”. “Antes da meia-noite” é último filme dessa trilogia. Nele Jesse e Celine vão passar uma temporada na Grécia. Nessa viagem o casal conversa sobre os muitos anos juntos e enfim param para pensar e analisar tudo o que viveram até ali. Questões como “e se você não tivesse falado comigo naquele trem?” são colocadas em pauta. Eles discutem sobre os anos que passaram juntos e principalmente sobre as escolhas que fizeram, além, é claro, de falarem do futuro, onde Celine deseja aceitar um novo trabalho, enquanto Jesse fala sobre seu desconforto em viver longe do filho do primeiro casamento. Um filme primoroso, assim como os dois anteriores.

10 – GAROTA EXEMPLAR, David Fincher, 2014

“Garota Exemplar” não só atinge a expectativa de quem esperava por mais um grande trabalho de David Fincher, como ainda traça uma discussão muito interessante sobre a vida adulta, com um casal que é levado pela vida ou pela conveniência a se transformar num tipo de gente que antes detestava: o marido frio e a mulher controladora. Adaptação de livro homônimo de Gillian Flynn, que também assume o papel de roteirista, o longa conta a história de Nick e Amy Dunne. Depois de um casamento dos sonhos, eles se veem obrigados a deixar a vida em Nova York para mudarem para Missouri. No dia em que comemoram o aniversário de casamento, Nick retorna para casa e encontra o lugar revirado. Ele não consegue encontrar a esposa e logo chama a polícia. A partir daí a trama se desenrola com muitas surpresas. Um filme no mínimo interessante!

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Vanelli Doratioto

Vanelli Doratioto é especialista em Neurociências e Comportamento. Escritora paulista, amante de museus, livros e pinturas que se deixa encantar facilmente pelo que há de mais genuíno nas pessoas. Ela acredita que palavras são mágicas, que através delas pode trazer pessoas, conceitos e lugares para bem pertinho do coração.

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