Imagem: Srijaroen/Shutterstock
A depressão é um transtorno psiquiátrico grave e acomete boa parte da população. Segundo o ex-secretário geral das nações unidas, Kofi Annan, cerca de 400 milhões de pessoas (7% da população) padecem da doença.
A fala ocorreu durante a abertura do seminário “The Global Crisis of Depression” (A Crise Global da Depressão), realizada em 2014, em Londres. O evento foi patrocinado pela revista britânica The Economist.
Levando em conta que já se passaram dois anos desde então, é normal que estes números tenham subido consideravelmente – hoje se fala em uma média de 416 milhões (10% da população) de pessoas afetadas. E eles continuam a crescer.
As cifras, é claro, não ficaram de fora: US$ 800 bilhões de gastos diretos e indiretos só em 2010 (custo que deve dobrar nos próximos 20 anos, segundo Annan).
De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde, até o ano de 2030, a depressão será a doença mais comum entre a população mundial. A OMS também diz que ela já é a mais incapacitante das doenças.
A síndrome depressiva se caracteriza por um conjunto de sinais e de sintomas que duram a maior parte do tempo, durante pelo menos duas semanas, e debilitam a pessoa doente. Ela acomete o organismo como um todo e causa alteração em importantes sistemas que regulam o funcionamento do corpo.
Entre as causas mais comuns estão o uso de drogas (lícitas e ilícitas), doenças cerebrais, estresse contínuo e fatores genéticos – responsáveis por 40% dos casos.
As mulheres são as mais afetadas pela depressão. A proporção é de 2 para 1, em relação aos homens. Isso se deve às flutuações hormonais que as acompanham em diversos momentos durante a vida (menstruação, parto e menopausa).
TRATAMENTO
O escritor americano Andrew Solomon é autor de O Demônio do Meio-Dia, um best-seller sobre o assunto. Em sua famosa palestra para o TED, Solomon toca em um ponto crucial da discussão: o uso de medicamentos no tratamento.
“Tanto a cura química como a psicológica têm seu papel”, foi a conclusão a que chegou, depois de se dar conta de que a ciência ainda não avançou muito nessas áreas.
“Os tratamentos que temos para a depressão são lamentáveis”, criticou. No entanto, deixa claro que o que temos hoje é melhor do que há 50 anos atrás, quando nada podia ser feito para ajudar pessoas com quadros depressivos.
Com anos de experiência na área, o psiquiatra Ricardo Alberto Moreno acredita que as perspectivas para o tratamento são boas. “Uma nova era de medicamentos antidepressivos, com um novo mecanismo de ação, está em estudo e deve ser comercializada em breve”, contou em entrevista exclusiva à CONTI outra.
“Os medicamentos antidepressivos são fundamentais no tratamento. Mesmo para depressões leves, são necessários”, disse. “É claro que intervenções psicológicas associadas são importantes, assim como psicoeducação e, em alguns casos, mudança no estilo de vida”, completou.
Ao falar em depressão, diversos equívocos são cometidos. Um deles é confundi-la com tristeza, descontentamento ou infelicidade. Ricardo aponta para um dos erros mais comuns: a de que existe uma cura. “Na maioria dos casos, a predisposição para deprimir se mantém ao longo da vida.”
Um passo importante no tratamento é o diagnóstico correto. Por ser de grande complexidade, este só pode ser feito por um profissional, que se utiliza de critérios específicos para cada caso.
“Estes critérios são revistos periodicamente nos manuais internacionais e nacionais de diagnóstico. Utilizando estes critérios, aumenta-se a confiabilidade diagnóstica (o diagnóstico pode ser corroborado por outros especialistas, confirmando-o) e a sensibilidade (identificação de casos positivos afetados pela doença)”, esclareceu Ricardo.
APRENDENDO A LIDAR
Ana Macarini é psicopedagoga e até hoje encara o problema bem de perto.
Diagnosticada com depressão em 2013, Ana teve que aprender a superar os empecilhos da sua então nova condição. “A maior lição que a depressão me ofereceu foi aprender a reconhecer meus limites”, disse.
O preconceito também é algo a ser enfrentado diariamente por quem tem a doença. “A maioria das pessoas acha que isso é ‘coisa da cabeça’, que a pessoa precisa se esforçar para melhorar. Essa cobrança dá um desespero!”, confessa Ana, que aponta para a necessidade de quebrar paradigmas.
“Quando o indivíduo está deprimido, ainda sem diagnóstico, ele não tem nenhuma condição de tomar decisões e procurar ajuda. Se não houver alguém que o enxergue, não haverá alguém pra ser enxergado, muito provavelmente.”
A condição de uma pessoa com síndrome depressiva é bastante complexa e compreender esta condição parece exercer um papel fundamental para seguir adiante.
“Aprender a lidar com a depressão é condição de sobrevivência e a única saída possível para se ter uma vida bacana, produtiva, afetivamente satisfatória”, conclui Ana.
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