Estou terminando a leitura do livro “O demônio do meio dia, uma anatomia da depressão”, de Andrew Solomom e, fechando o livro ao final de cada capítulo, me ponho a refletir sobre essa doença que atinge tanta gente em nosso tempo e que muitas vezes não é compreendida, diagnosticada ou cuidada como deveria.
Eu não entendia a depressão, até que tive uma.
Foi há dois anos, e levei todo esse tempo para conseguir falar sobre o assunto. A gente só entende realmente o que aconteceu olhando em retrospectiva, e é difícil falar da depressão durante a depressão.
Hoje estou bem, recuperei minha vitalidade, minha energia, minha coragem e principalmente minha conexão com o mundo e com as pessoas. Voltei a me sentir a pessoa que sempre fui, a mulher ativa, animada, por vezes engraçada, enérgica e corajosa.
Porém, conheci o outro lado, e isso me trouxe um entendimento maior acerca do inverno da alma.
Ainda tomo o meu remédio, numa dose menor daquela que comecei. Pode ser que daqui a algum tempo eu consiga andar sozinha sem os comprimidos, mas antes quero me sentir totalmente segura.
Antes de ter depressão, eu tinha uma curiosidade arrogante diante das pessoas deprimidas. Achava que sabia o que elas sentiam, e ficava indignada pela pouca força de vontade que apresentavam. Na minha ignorância, achava que o que elas sentiam era o mesmo que eu experimentava na TPM, um misto de sensibilidade com irritação, algo perfeitamente contornável com uma caixa de bombons.
Eu era tão desentendida que não consegui identificar minha própria depressão. Porque eu imaginava que depressão era sinônimo de tristeza, e não reconheci que aquela perda de sentimento, aquele distanciamento da minha essência, aquela falta de sentido e aquele entorpecimento que eu experimentava era depressão.
Não sei dizer o momento exato em que a depressão chegou. Também não consigo encontrar um motivo específico que tenha sido o gatilho para ela se manifestar. Ao mesmo tempo que havia muitos motivos, não havia nenhum. De repente me flagrei indiferente. Indiferente às conversas, ao trabalho, aos livros, ao dia que começava, à vida. Fiquei antissocial. Me encontrar com as pessoas, manter uma conversa, receber um telefonema… era uma agressão. Me agasalhava demais, mesmo em dias quentes, como se o excesso de roupas pudesse me proteger e me isolar do mundo.
Passei um ano me sentindo assim, e nas festas de final de ano me sentia exausta. Me relacionar com as pessoas era exaustivo, exigia um esforço sobrenatural. Eu procurava disfarçar minha desconexão, não dava bandeira da minha apatia, mas algumas pessoas notaram. E elas foram fundamentais para minha cura. Agradeço às minhas primas, que com carinho e cuidado me confrontaram. Se interessaram. Me incomodaram. Não tentaram me divertir. Não tentaram dizer que a vida é linda e que eu tenho que valorizar. Não insistiram para que eu dançasse ou risse de uma piada. Nada disso teria funcionado, e poderia me afundar ainda mais. Elas acertaram quando me olharam com firmeza e disseram seriamente que eu deveria procurar um médico.
Foi o que fiz. Fui diagnosticada com depressão, comecei a tomar remédio, ajustamos as doses e após um mês de adaptação (que pareceu uma eternidade) já estava me sentindo melhor. Voltei a reconectar-me comigo mesma, ganhei energia, passei a sair da cama bem disposta.
Além dos benefícios esperados, tive outros ganhos. Me curei de diversas dores que eu frequentemente tinha e que médico algum conseguia resolver. Descobri que as dores _ que me acompanhavam há mais de dez anos _ eram psicossomáticas, e só se curaram com o antidepressivo. Talvez se a depressão não tivesse se manifestado em sua forma mais nítida, eu jamais teria descoberto que minhas dores físicas (e muito reais!) eram sintomas de um desequilíbrio emocional. Talvez, se eu não me tratasse da depressão, eu continuasse passando noites em claro, com insônia, como costumava ser minha rotina.
Depressão não é frescura, muito menos “falta de vassoura”, preguiça ou ingratidão diante da vida e de Deus. Depressão é desconexão da alma. Desconexão com a realidade, com o convívio social, com nós mesmos. É distanciamento da razão de existir e de estar aqui. É a descoberta de que o oposto da depressão não é a felicidade, e sim a vitalidade.
A pessoa deprimida não está assim porque quer. E não é forçando-a a fazer exercícios, a rir de uma piada ou se reunir com amigos que você irá ajuda-la.
Talvez você possa ajuda-la fazendo-a entender que não vai ser sempre assim. Levando-a a acreditar que, com fé em Deus e na medicina, isso também vai passar. Ajudando-a a confiar que em algum momento a cura vai chegar, e ela será grata por recuperar a vitalidade e a vida…
Imagem de capa: Photographee.eu/shutterstock
Para comprar meu novo livro “Felicidade Distraída”, clique aqui.