Esse jeito de viver no qual estamos querendo acreditar que é o melhor, no mínimo, é muito chato! Monocromático, monotemático e raso. Tudo tem que ser azul, nada de cinza, marrom ou qualquer outra coisa que nos remeta à “tristeza”- esse bicho papão.
Vivemos a ditadura da positividade. Diariamente, temos de nos mostrar satisfeitos, sorridentes, entusiasmados, vence- dores de todos os obstáculos da vida.
Os medos, os desânimos, as chateações temos de escon- dê-los, pois são feios e perigosos, além do que são poderosos repelentes de pessoas. Ninguém está interessado nesses senti- mentos, muito menos compartilhá-los com você, pois compar- tilhar é levar para casa uma fração desses destemperos, e isso é um perigo!
Podem ser virais ou podem acordar outros sentimentos aprisionados que desejarão se rebelar.
Como ficamos bem quando temos a possibilidade de expressar os nossos mais feios sentimentos, escancará-los ou até intensificá-los, ao falar com os amigos de verdade. Quando temos liberdade de olhar as profundezas de nossas emoções e, em seguida, ter a sensação de que lavamos a alma! Leveza pura…
Mas, cada vez mais, estão raros esses momentos! Não vamos conversar sobre eles nas festas que frequentamos, ou no supermercado, muito menos na academia ou no trabalho.
Interessante é que mil mensagens de otimismo circulam pelas redes sociais como injeções de ânimo, porém, se estamos todos felizes, por que necessitamos de ser lembrados e reforçados a todo momento?
A questão é que estamos perdendo o direito de fraquejar, temer, desanimar por uns segundos, cair e demorar um pouco para levantar.
Assim vivendo não haverá a possibilidade de virarmos uma página em branco?
Grande engano se acreditarmos em que essa positivida- de excessiva cumpra com a função de nos afastar de tudo que é ruim.
Como diz Chico Buarque “tem dias em que a gente se sente como quem partiu ou morreu”, portanto, há dias em que sentimos tristeza, raiva, medo… e, por favor, não me venham me dizer que é TPM!
Imagem de capa:oneinchpunch/shutterstock