A gente se apega. Se apega e muito, tanto que não sabe soltar a mão do filho quando ele quer (e precisa) andar sozinho, não sabe soltar o sorriso quando o mau humor já até foi, não quer soltar a raiva quando ela já nem está mais lá, não larga o missa inteira de ladainhas e reclamações, mesmo quando ninguém está mais disponível para ouvir, não deixa ir o rancor, mesmo quando mais nenhum sentido ele faz…
O tempo de segurar junto do peito é real, tudo o que a gente passa na vida é para realmente ser vivido, doendo ou não, é o que molda a gente, o que faz a forma única e inconfundível de cada um. Mas tudo, absolutamente tudo, até a própria vida só dura um tempo, depois passa. Quando começa a esfriar, a acalmar, dissipar, atenuar, é preciso saber o momento de soltar, deixar ir. Deixar ir a tristeza, a raiva, as desilusões, mas também as risadas, os afetos, as promessas. Deixar ir é um ato inteligente, honesto, justo. Às vezes tudo volta. Outras, não volta nunca. E assim é, às vezes nós voltamos, outras, jamais.
Como um elástico, a gente estica até onde ele vai, mas depois esgarça, perde a forma, ou pior, volta a nós com tal violência que deixa marcas doloridas. Saber o momento de largar é proteção e alívio. É garantia de mãos livres para alcançar e tocar no que tiver vontade.
Seja o que for, se já está passando, desapegue, abra caminho, mostre a saída, despeça-se bem e deixe ir. Ao invés de conviver às turras com o que ansiava por ir embora, decrete o fim da estadia. Sacuda as colchas, bata os tapetes, coloque os travesseiros no sol, desfaça as tensões, ajeite a postura, aproveite a porta aberta e siga sua vida. E mantenha por perto somente o que não estiver de passagem.
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