Todos nós já passamos por alguma imersão melancólica. Daquelas onde falta ar, direção e propósito. Uma perda emocional engatilhada por um motivo qualquer, não importa. Não há uma resposta simples para se estar triste. Algumas vezes, o amanhecer não é aconchegante. Quem disse que precisamos esbanjar felicidade o tempo inteiro? Podem ser sortudos os que enxergam belezas nas perdas cotidianas, mas não são azarados aqueles que, diante um tombo, escolhem recolherem-se.
Você pode chamar de resiliência, caso queira. E talvez esse seja o sentimento a ser empossado. É quando nos deparamos com adversidades que temos os descaminhos para ir mais além. De sermos próprios, ávidos e pensantes. Imagine atravessar uma vida inteira sem provar de um gosto amargo? Não fraquejar? Por quê? Desculpe, mas um pouco de tristeza é fundamental. Longe de mim querer deixá-los tristes, ainda assim, olhar para esse texto e reconhecer apenas palavras poucas, lamento.
No mês passado perdi um amigo. Ano passado perdi amores. Até mesmo trabalhos entraram nessa ciranda imprevisível da vida. Anteontem, acredite, até assaltado fui. Poderia alimentar inúmeras raivas por instantes tão densos e injustos, mas resolveria? Fico espantado com a facilidade de algumas pessoas em propagarem raivas e ódios. Uma opinião diferente, raiva. Um desfecho contrário, ódio. Como podemos seguir?
Engraçado é que outros tantos diriam apenas para sorrir ou para não pensar dessa forma. Concordo serem janelas tentadores e positivas, mas, tenho que insistir, uns dias tristonho, há uma certa tranquilidade nisso. Sei que para você, esse não é o melhor texto para adentrar no meu coração. Mas é honesto e, por que não, legítimo? Afinal, combinei comigo desde início que escreveria sempre para transbordar e não para reter. A poesia começa aqui, mas não possui endereço certo.
Desculpe, mas um pouco de tristeza é fundamental. Escrevo com uma certa ponta de felicidade no canto do rosto e, também, acometido por umas poucas lágrimas. Estou bem. Estamos bem. Posso ter perdido muito ultimamente, mas nenhuma doença, desavença e desamor irão me tirar – mesmo que à mão armada, isso que nós temos. Isso que tenho.
A tristeza recolhe e também propicia novos impulsos. Na minha situação, sentir o que deixo transparecer nessas linhas é o melhor remédio. E precisei estar triste para abraçar o quanto já ganhei numa vida inteira. De repente, a sorte nada mais é do que uma perspectiva.
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