E lá vem o Natal. Com ele vem tanta coisa.
Vem o verde, o vermelho e o dourado enfeitando árvores e mesas. Vem a magia indescritível que só se sente quando se é criança. Vêm as confraternizações e as revelações dos amigos ocultos. Vem a loucura desenfreada no trânsito e nos shoppings. Vem o fim das dietas, vencidas pelos panetones de chocolate. Vem o latejar das feridas da saudade. Vem o engolir seco das lembranças que doem. Vem a hipocrisia dos que têm muito perto dos que não têm nada. Vêm as imortais músicas natalinas com aquele poder de nos fazer chorar. Vem o cansaço de quem trabalha no comércio. Vem a correria nos supermercados. Vem aquela sensação de que o tempo voou e já chegou mais um Natal.
Junto do Natal vem tanta coisa que talvez seja por isso que muita gente não goste dele. O Natal é um turbilhão de emoções.
Tradicionalmente conhecido como festa cristã apesar dos relatos de que pessoas já se reuniam em volta das árvores bem antes de Cristo, o Natal sempre traz a nós o convite a refletir sobre o que realmente vale a pena. Este ano, um comercial de natal de uma rede de supermercados alemã fez isso com maestria. Nele, um pai já de idade avançada prepara a ceia enquanto ouve pela secretária eletrônica um dos filhos dizer que não ira passar o natal com ele novamente. Em seguida vemos os três filhos em diferentes lugares do mundo, receberem a notícia do falecimento daquele pai e então se prepararem para ir ao enterro. Quando entram na casa do pai, todos de preto, encontram a mesa posta para a ceia de Natal e então o pai entra na sala e pergunta:
-De que outra forma eu conseguiria reunir vocês?
Ao assistir o vídeo novamente para lhes escrever, eu chorei. Chorei como em todas as outras três nas quais assisti. Lembrei-me do enterro do meu avô, cujo caixão foi carregado pelos seus sete filhos que já não se reuniam há bastante tempo. Lembrei-me também dos Natais na casa dele. Pensei em todas as famílias que não se reúnem mais. Pensei nos idosos que passarão o Natal no asilo. Pensei em todos que devem ter algum nó na garganta para engolir no Natal, assim como eu também já tive. Pensei nos meus natais de criança e acabei me lembrando de que, aos doze anos eu pedi uma máquina de escrever para o meu pai de presente de Natal. Talvez eu já gostasse de escrever.
Aquele comercial tocou aos que o assistiram, e acredito que tenha feito em cada um de vocês o mesmo efeito que fez em mim.
O que quero desejar a vocês que durante todo o ano acompanham os meus pedaços sobre a vida, as minhas reflexões sobre a existência e as relações humanas e os meus artigos escritos para levar um pouco da minha ciência até vocês é UMA SEGUNDA CHANCE.
Que o Natal de todos nós seja de amor e que ninguém se sinta só.
Que possamos mudar o curso do nosso caminho em busca de perdão, de paz, de aconchego.
Que a alegria das crianças envoltas na magia do Natal respingue sobre nós.
Que o nosso lado bom vença as nossas batalhas internas.
Que possamos esquecer de todo o mal, de toda a injustiça, de todas as tristezas que vive o nosso país, de toda a agressividade que possa ter chego até nós por quem ainda só tem ódio a oferecer.
Que a corrupção perca a batalha.
Que a água lave a lama.
Que nasça em cada um de nós uma versão melhor de nós mesmos.
Desejo a todos uma segunda chance e espero que aquele comercial de TV tenha mudado os planos de muitos para o Natal.
Desejo que a caridade tome conta do coração de todos nos. Que todas as cartinhas ao Papai Noel entregues no correio sejam respondidas. Que o amor se prolifere em progressão geométrica na noite de vinte e quatro de dezembro e que transborde pelo mundo na manhã seguinte.
Desejo que a gratidão tome o lugar da insatisfação.
E finalmente, desejo que todos os sonhos se realizem.
Obrigada Gazeta de Limeira pelo espaço.
Obrigada leitores.
A todos um Feliz Natal.
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