“Se admitirmos que a vida humana pode ser regida pela razão, está destruída a possibilidade da vida”. (Into the Wild)
Vivemos através de uma bolha protetora, onde emocionar-se é o mesmo que ser vulnerável diante do outro.
Deve haver alguma coisa que ainda te emocione. Algo que tire o seu chão e a previsibilidade treinada diariamente como forma de camuflagem diante do mundo. O mundo nos cobra certas atitudes, decoros e comportamentos didáticos e muitas vezes, insensíveis naquilo que diz respeito aos mais variados assuntos. Não por um tipo de senso operacional e robótico, mas simplesmente por compreender que para suavizar os golpes imprevisíveis da vida, necessitamos da proteção de um coração castrado, cicatrizado, e alarmantemente frio. Mas por quê?
Há tantas vivências, informações, cores e sabores para serem descobertos e, ainda assim, demonstrar emoções e as suas consequências, de braços abertos e olhos marejados, seriam o mesmo que atirar-se num abismo existencial. Quando foi que começamos a carecer de tato, sensibilidade, ternura?
Emocionar-se de fora para dentro é limitar o ser. Reprimir a admiração por um livro, a falta de palavras para descrever uma música, a euforia dramática de assistir um filme, quiçá os memoráveis momentos passados com entes queridos ou simplesmente a contemplação crua de uma bela paisagem.
Nascemos emocionados, mas conforme crescemos render-se aos “caprichos” do coração transformou-se em um sinal de fraqueza imperdoável. Talvez seja por isso que ainda não sejamos capazes de reconhecer relacionamentos, laços emocionais almejados, mas cada vez mais frágeis quando temos tudo e pouco no mesmo tempo e quantidade.
Deve haver alguma coisa que ainda te emocione. E isto não é necessariamente despir-se de lágrimas, mas de algo além. Pode ser algo como encher-se de ternura, cordialidade, respeito, altruísmo, igualdade. Os exemplos são diversos e as emoções também, obviamente. Deve haver alguma coisa que ainda te emocione, impulsione, desconstrua e reconstrua o seu modo de pensar, agir, viver e sentir. Não é contraste. É brilho.
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