Da Redação do Blog Tudo Sobre Minha Mãe
“Não há nenhuma evidência de que o dever de casa melhora o desempenho acadêmico de crianças na escola primária.” Essa declaração foi feita pelo pesquisador americano Harris Cooper, da Duke University, no Estado americano da Carolina do Norte. Cooper é um especialista neste campo de pesquisa e escreveu o livro “The Battle Over Homework: Common Ground for Administrators, Teachers, and Parents . Ele é categórico quando afirma que todo tempo que os pequenos deixam de brincar e todo nosso esforço em fazer com que eles façam seus deveres depois da escola é em vão. E agora? Será que é assim mesmo? Ter tarefas para fazer em casa é uma pratica tão difundida que a maioria de nós nem se questiona se isso traz realmente benefícios ou não.
Bem, pois aqui vão os fatos, em versão resumida: dever de casa, tem sim seus benefícios, mas isso está diretamente ligado a idade das crianças.
Pesquisas sugerem que para alunos de escola primária, o trabalho em sala de aula é muito mais eficiente do que aquele depois das aulas. O dever de casa não faz com que as crianças aprendam mais: é apenas mais trabalho. Até para alunos um pouco maiores, a relação entre dever de casa e desempenho acadêmico não é das melhores. No ensino médio, o dever de casa pode sim melhorar o desempenho acadêmico, mas deve ser feito com moderação. Duas horas por noite é o limite, acima disso o trabalho de casa começa a ser contra-produtivo, garantem os especialistas.
E antes de continuarmos, que pesquisas são essas? São resultados realmente confiáveis? Bom, parecem que sim. Não se trata de um estudo isolado sobre o tema, mas sim de vários. Harris Cooper compilou 120 estudos em 1989, e outros 60 estudos em 2006. A análise abrangente de todos os resultados sugere que não apenas o dever de casa para alunos da ensino primário é ineficiente, como pode até causar uma atitude negativa das crianças em relação a escola.
E é exatamente essa a pior notícia dessa história. O dever de casa está sim impactando as crianças pequenas, mas muito mais de forma negativa do que positiva. Uma criança que está apenas começando seu caminho acadêmico deveria ter a chance de poder desenvolver curiosidade e paixão genuína pelo aprendizado, em vez de desde muito pequeno se confrontar com imposições que lhe roube tempo livre. Além disso, quando aplicado prematuramente, o dever de casa também é uma fonte de conflito entre pais e filhos. À noite, em um momento que as famílias deveria relaxar a aproveitar a companhia um do outro, o que se vê em muitas famílias é a seguinte cena: pais cansados cobrando de crianças também cansadas – “Já fez o dever de casa?” E o que se vê é uma criança desmotivada debruçada em cima de um livro.
Os defensores das tarefas de casa argumentam que além de ensinar responsabilidade, os deveres reforçam o que foi aprendido na sala de aula e criam um link entre a escola e casa. Mas existem muitas outras maneiras de ensinar responsabilidade para as crianças, cuidar do cachorrinho ou ajudar com alguma tarefa doméstica, por exemplo. Pais interessados em se conectar com a escola, podem simplesmente abrir os cadernos dos seus filhos e conversar com eles sobre o que eles estão aprendendo na escola, sem terem que necessariamente cumprir tarefas obrigatórias. Reforçar o que se aprendeu é um aspecto importante no ensino, mas não é o único. Dormir bem, ter boas relações familiares e ter bastante tempo para brincar são exemplos de fatores que contribuem para um bom desempenho acadêmico.
Ler, por exemplo, funciona muito melhor do que dever de casa para apoiar o aprendizado de crianças pequenas. Tanto a criança ler para os pais, como os pais lerem para as crianças. O importante é que as atividades, que reforçam o que se aprende na sala de aula, sejam prazeirosas, feitas com amor e despertando curiosidade em aprender. Afinal essa é uma longa caminhada. E ninguém quer queimar na largada, né?
Este texto é uma adaptação livre do texto “Homework is wrecking our kids: The research is clear, let’s ban elementary homework”. Clique aqui para ler o artigo original em inglês no site salon.com