Por Josie Conti
“Há um texto atribuído à Malba Taham que apresenta a origem da palavra “sincera”:
“Os romanos fabricavam certos vasos de uma cera especial. Essa cera era, às vezes tão pura e perfeita que os vasos se tornavam transparentes. Em alguns casos, chegava-se a se distinguir um objeto um colar, uma pulseira ou um dado, que estivesse colocado no interior do vaso. Para o vaso, assim fino e límpido, dizia o romano vaidoso:
– Como é lindo… Parece até que não tem cera!
“Sine-cera ” queria dizer “sem cera”, uma qualidade de vaso perfeito, finíssimo, delicado, que deixava ver através de suas paredes. E da antiga cerâmica romana, o vocábulo passou a ter um significado muito mais elevado.
Sincero, é aquele que é franco, leal, verdadeiro, que não oculta, que não usa disfarces, malícias ou dissimulações.
O sincero, à semelhança do vaso, deixa ver através de suas palavras, os nobres sentimentos de seu coração.”
“Sine-cera”, então, tornou-se para mim a definição perfeita quando pensei em falar do livro “A Soma de Todos os Afetos”, da escritora Fabíola Simões, que, em mais de 100 crônicas, apresenta uma coletânea de sentimentos e percepções da vida tão delicadamente desenhados que poderia ser indicado não só para as pessoas que carregam interesse lá pelo mundo de dentro, mas também àqueles que precisam entender e conhecer particularidades do processo de crescimento e maturação emocional do ser humano.
Tradutora de emoções, a prosa poética apresentada pela autora é um espelho de prata para pessoas sensíveis. É um toque de vida aos que procuram explicações que deem sentidos aos sentir. É mãe que assopra a ferida do filho que caiu da bicicleta.
O reencontro consigo e o amor pelos seus é tão intenso nas palavras da autora que transforma letras em risos, frases em lágrimas, textos completos em suspiros. Seus parágrafos têm cor e cheiro. O livro todo é um grande e terno abraço de reconciliação com a maturidade que a vida proporciona.
Como não querer ler crônicas que têm como título “O tempo da delicadeza”, “O que a memória ama fica eterno” ou “A gente tem que continuar”? Os textos apresentados trazem a poética do que é essencial, do cotidiano dos afetos e do que dá sentido a continuidade da jornada.
É muito gratificante poder dizer que Fabíola Simões é certamente uma das melhores cronistas dessa geração, pois tem a capacidade de conciliar conteúdo de extrema qualidade à beleza estética de sua escrita. Afinal, a perfeição não mora longe da simplicidade.
Definitivamente um livro para ler, reler e presentear a quem amamos.”
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