«Sinto-me abençoado por poder ajudar os outros, sobretudo os que estão a passar pelo mesmo que eu: velhice» Irvin D. Yalom
O psiquiatra e psicoterapeuta americano Irvin D.Yalom, de 84 anos, escreveu um novo livro, desta vez de não-ficção, onde partilha dez histórias de pacientes que se deitaram no seu divã. ‘Criaturas de um Dia e outras histórias de psicoterapia’ (‘Creatures of a Day and Other Tales of Psychotherapy’), traduzido para português por Casimiro da Piedade, à semelhança da obra pela qual tornou-se conhecido mundialmente, no final da década de 1980, ‘A Psicologia do Amor‘ (‘Love’s Executioner and Others Tales of Psychotherapy’), está escrita de forma íntima e pessoal, e revela um profissional amadurecido e célere a dissecar os “demónios” que atormentam os seus pacientes. Irvin é a ponte para essa terrível fronteira em que a realidade se perde e o abismo espreita.
Dos dez protagonistas das histórias, a maioria com idade avançada, quatro vieram bater ao consultório do médico por terem lido vários dos seus romances e por estarem convictos de que apenas ele poderia os curar. São eles: Paul, um escritor frustrado, que «tinha a solidão como companhia» e se redemoinha obsessivamente em torno de um livro em torno de Nietzsche, que nunca conseguiu publicar; Natacha, uma ex-bailarina que se retirara do mundo do espectáculo devido a uma lesão grave e que ansiava voltar estar em palco. (É esta paciente que pergunta a Irvin: «Como é que consegue lidar com o facto de ter oitenta anos [sessão decorrida em 2011] e sentir o fim a aproximar-se cada vez mãos?» e que ouve «nunca me senti tão bem ou tão em paz comigo mesmo como agora.»); Rick, um antigo executivo financeiro, que vive num lar e que procura um sentido para o que lhe resta da vida; e Justine, uma enfermeira que cuida dos outros mas é incapaz de se oferecer um mínimo de conforto.
Charles, Alvim, Sally, Ellie, Helena e Jarod são as restantes pessoas, cujas análises psicoterapêuticas são revisitadas por Yalom. Assuntos como a solidão, a culpa, o arrependimento, a mortalidade, a amizade e o amor, são abordados e alvo de reflexões belíssimas por Irvin, que afirma ainda sentir-se «humilde perante a infinita complexidade da mente humana», após mais de cinquenta anos de prática clínica.
Em ‘Criaturas de um Dia e outras histórias de psicoterapia’, Irvin D. Yalom partilha com os leitores histórias de recuperação instigantes, para que elas sirvam de encorajamento aos que combatem os seus males. É também um livro indicado para os profissionais que praticam psicoterapia, pois oferece um vislumbre de como a relacção terapeuta-paciente pode operar. Em suma: uma obra para aqueles que se interessam pela psique humana e pelo desenvolvimento pessoal. Mais um inesquecível e marcante livro do autor de vários ‘best-sellers’ internacionais, que nos guia numa fascinante viagem pelos complexos labirintos da psique humana.
Excertos
«Quando os pais morrem, sentimo-nos sempre vulneráveis não só porque estamos a lidar com a perda, mas também a confrontar-nos com a nossa própria morte. Quando ficamos órfãos, passa a não haver ninguém entre nós e a sepultura.» (p. 90)
«Uma vez que podemos nunca saber com precisão como é que ajudamos alguém, nós, os terapeutas, temos de aprender a conviver confortavelmente com o mistério, enquanto acompanhamos os pacientes nas suas jornadas de autodescoberta.» (p. 234)
A indicação de leitura é do nosso blog parceiro Silêncios Que Falam (Site; Facebook)
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